Doutorando do PPG/EST realiza pesquisa inédita no país
O título provisório de sua tese é “Ὁ Κρατήρ: Uma Análise do Corpus Hermeticum IV. 3-6a.” O objeto da pesquisa é "O Tratado Hermético Ὁ Κρατήρ na História das Antigas Religiões do Mediterrâneo Egípcio-Helenístico – Uma Análise Exegética do Corpus Hermeticum IV. 3-6a."
De forma variada, seus objetivos são:
- Analisar a concepção de βαπτίζω [baptizō] no Tratado Ὁ Κρατήρ (C.H. IV.3-6a) e estabelecer sua relação com os textos de Timæus 41 D (de Platão), De somniis II. 183, 190, 249 (Filo de Alexandria) e de Provérbios 9.1-6 (LXX).
- Apresentar um panorama da Literatura Hermética, inclusive do texto em questão, C.H. IV. 3-6a, no original grego. Buscar-se-á identificar assim as formas de exposição do tema Hermetismo e Literatura Hermética na História das Antigas Religiões Mediterrâneas, principalmente, na História do Mundo Contemporâneo do Novo Testamento e da Igreja Primitiva, Contexto e Substrato do Novo Testamento, a fim de proporcionar ao tema seu devido lugar na disciplina;
No Projeto, David salienta:
Portanto, a presente pesquisa do Corpus Hermeticum se justifica por se tratar de um objeto de pesquisa da História do Mundo Contemporâneo do Novo Testamento e da Igreja Primitiva, Contexto e Substrato do Novo Testamento, da História das Antigas Religiões Mediterrâneas, da História da Filosofia, além de ser objeto mesmo do estudo da Filologia e da Linguagem e Interpretação. Vários são os estudiosos que fizeram pesquisas acerca do Corpus Hermeticum, os filólogos Richard August Reitzenstein, Arthur Darby Nock, André-Jean Festugière; o semioticista Humberto Eco; os filósofos Giovanni Reale, Garth Fowden; o historiador das religiões Mircea Eliade; o cientista da religião Giovanni Filoramo; os exegetas do NT e Teólogos John Horman, Thomas McAllister Scott; o historiador Charles Flowers; a doutora em língua inglesa Cassandra Cherie Amundson; a pesquisadora Willis Barnstone; entre muitos outros e outras.
A realização desta pesquisa na Área de Bíblia – Especialidade Novo Testamento – torna-se de suma importância pelo fato de que, desde Wilhelm Franz Bousset and Richard August Reitzenstein até os nossos dias, os Escritos Herméticos têm sido estudados no âmbito maior na História das Religiões e da Filosofia e relacionados com Fenômeno Gnóstico. A Escola da História das Religiões (Religionsgeschichtliche Schule) empregou, entre várias fontes, o Corpus Hermeticum para evidenciar a existência das antecedências gnósticas sobre o Cristianismo. Reitzenstein considerava o Corpus como produto final de um movimento que tinha se desenvolvido por um longo período de tempo, cujo início se deu antes da Era Cristã. Neste sentido, ele acreditava que os Escritos Herméticos poderiam ser uma fonte aplicável e confiável para interpretar e aclarar muitos elementos característicos das doutrinas cristãs e sua teologia com certa segurança. Não é raro ver que muitos acadêmicos têm seguido essa teoria. Eles têm colocado ou situado o Hermetismo como uma seção ou capítulo dentro do assunto Gnosticismo para explicar as origens do Gnosticismo, mesmo quando eles estão tratando daquilo que é rotulado como Gnosticismo Cristão. Foi justamente com essa Escola, na metade do século XIX ao início do século XX, que começou um criterioso estudo e uma acurada pesquisa histórico-religiosa na área de Novo Testamento. Os pesquisadores tinham como objetivo situar o NT no ambiente das antigas religiões, estabelecendo comparações histórico-religiosas, com a finalidade de identificar as possíveis relações de dependência entre o cristianismo e as outras religiões de seu mundo assim como conhecer melhor os sentidos próprios dos conceitos e ideias no Novo Testamento.
Sendo assim a pesquisa sobre o Corpus Hermeticum e o Hermetismo tem sua relevância não só na área de uma Teologia Cristã (Novo Testamento), mas também na área da Filosofia, Ciências da Religião (inclusive História das Religiões e Fenomenologia da Religião), Psicologia, Antropologia, Filologia e História. Sendo assim, ela contribui para uma boa compreensão do Movimento Hermético na História das Antigas Religiões Mediterrâneas, e principalmente quando se fala do Mundo Contemporâneo do Novo Testamento.
Esmiúça a seguinte hipótese:
Visto que aparece a palavra baptizo no texto em que procedo a análise e ao mesmo tempo ali, semanticamente, se trata de um texto de banquete, eu digo que baptizo não quer dizer necessariamente imersão, mas mistura, misturar, significa que ali há possibilidade do texto ter sido empregado na festa de Tekh que acontecia no ano novo, no período da cheia do Nilo, quando havia um ritual de beberagem e comensalidade. Então ali não se trata nem de imersão nem de qualquer compreensão cristã.
Quando o texto fala βάπτισον σεαυτὴν ἡ δυναμένη εἰς τοῦτον τὸν ϰρατῆρα no C.H. IV.3-6a ele não quer dizer “batiza-te a ti mesmo na cratera que tu podes”, mas algo para significar “mistura na cratera tu que podes”. O redator/autor deve ter empregado uma alegoria antiga da cratera e deve ter adaptado as palavras ao contexto egípcio, visto que ϰεράννυμι [kerannȳmi] e μίγνυμι [mignȳmi] não poderiam traduzir a palabra “Tekh”, mas encher, mergulhar, transbordar, era o ritual de "Thoth”.
David assinala as implicações, em que segundo ele batismo não significa apenas “imergir, mergulhar”, nem só “embebedar”, mas também misturar. Desafia frontalmente as teorias de muitos que diziam que aqui estava vinculado com a prática ritualística grega ou a mistura de dois sacramentos; os herméticos não tinham sacramentos. A “gnose” para os herméticos é comer e beber do conhecimento. Logo, "não se deve fazer a confusão do Hermetismo com qualquer movimento gnóstico-cristão.”
Sobre o autor:
David hoje estuda na EST, mas seu contato com o assunto "Literatura Hermética" surgiu
quando lera “A Interpretação do Quarto Evangelho”, de C.H. Dodd na Biblioteca do SAET (Seminário Anglicano de Estudos Teológicos do Recife).
Daí, percebera que não havia muitos materiais em português e quase nada se produzia
sobre isso no Brasil, de onde partiu seu interesse em pesquisar sobre a Literatura Hermética e Hermetismo, sendo hoje o pioneiro dessa pesquisa.
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