Nos tempos do Novo Testamento, a predominante escola estoica de filosofia tinha elevado a estima [do valor da glória] a um nível muito alto, ao que parece em resposta ao culto da gloria na nobreza romana. Acreditava-se que a conquista da gloria era a única recompensa adequada para o mérito na vida pública, e que, dada a incerteza sobre o estado do homem após a morte, era a efetiva garantia da imortalidade. Tornou-se, por isso, um objetivo primário e admirado das pessoas públicas cultuar-se a si mesmas, definindo realmente sua própria glória, na memória imortal da posteridade. Mais ainda, era considerado inferior aquele que não se empenhasse nessa procura da glória. [1]
Vasos
de barro
Comumente
uma abordagem próxima do positivismo histórico passa ao lago de
questões de identidade e autoexpressam nos estudos das origens
cristãs. Costuma-se descartar muitas vezes como “psicologização”.
Encontra pouco aparato em suas ferramentas.
Felizmente,
podemos encontrar hoje um bom suporte em análises e investigações
com a antropologia social e estudos culturais. Estas apresentam
instrumentais para nos aproximarmos de ambientes de vida com as
interações, conflituosas e/ou sinergicas entre as comunidades do
cristianismo nascente e diferentes expressões do judaísmo, sua
matriz, bem como, com o clima cultural, apelos simbólicos e
estruturas sociais do mundo imperial romano.
É
muito intrigante refletir sobre como os cristãos foram delineando
sua identidade, ante as clivagens inerentes de sua crença com modos
de vida, apelos, e mesmo o caráter social do sistema histórico em
que viveu, considerando a necessidade de sobreviver, e, vivendo ainda
na sociedade urbana, obter seu mínimo de convivência civilizatória
e inserção social. Nos ajuda a investigar também quais seriam as
“pontes” para alcançar “gentios”, que não fossem próximos
da fé judaica, conseguindo suas conversões e os mantendo no
ambiente comunitário da fé que até então lhes era estranha e lhes
causava agora certos transtornos sócio-políticos, com implicações
econômicas. Afinal, passaram a professar que
a honra, confiança e lealdade a César deveria ser dada não a ele
mais, mas a um judeu Yeshua, que morrera crucificado [2], e que não
mais deviam conceber a “paz” como derivada do poder e
estabilidade imperial, mas a uma aliança exclusiva com esse Messias,
sabendo do risco que corriam...
Sendo
que era óbvio que suas necessidades econômicas e sociais, a
segurança pessoal, direitos, dependiam diretamente de César, mesmo
(ou sobretudo) entre os pobres (que pareciam ser menos pobres do que
os pobres dentre os cristãos judeus [3].
Aderir
ao cristianismo naquele contexto significava experimentar um choque
com a aglutinação religiosa-sociológica do ambiente, em que alguém
se situava para se estabelecer. Os ritos e confraternizações tinham
uma função conspícua para os jogos de respeito, solidariedade e
competições sociais. E há muito abandonou-se a ideia de que a
vivência espiritual comunitária estava em declínio do período do
emergir do cristianismo.
Quero enfatizar quanto a prática da religião era diversificada, proeminente e generalizada, provavelmente para um grande número de pessoas. (…) Talvez a primeira coisa a ressaltar seja a penetração da religião no mundo romano. Na verdade, é difícil apontar algum aspecto da vida naquele tempo que não fosse explicitamente relacionado à religião. Nascimento, morte, casamento, a esfera doméstica, civil, a vida política em geral, o segmento militar, a vida social, o entretenimento, as artes, a música – tudo estava carregado de significado e associações religiosas. -[4]
Desta forma,
não se superestima o temor da queda no ostracismo e o risco da
anomia para indivíduos e famílias cristãs. Risco para aqueles com
inexpressivo status social, de aumentar a estigmatização, ver
cortadas as possibilidades de ascendência; risco de declínio e
aviltação por parte dos de melhores posições.
Quero
ser considerado !!
Na
busca humana por reconhecimento, por uma abertura de um horizonte de
possibilidades melhor, para si, família, descendentes; do alívio de
sofrimento por parte de camadas mais exploradas na hierarquia social;
da fuga ante ao medo de perder-se o que tem, por parte dos que têm
relativamente uma condição melhor e ante ao suplício de exposição
vexaminosa, censura social e violência moral, em que termos podemos
pensar uma reação por parte dos convertidos à nova religiosidade?
Buscarei
um recorte que proporcione lidar com com um bom panorama, cauteloso
mas com valiosos elementos para análise. Tratarei de alguns
elementos, na preocupação com os sentidos de valor próprio,
afirmação e identidade, significativos na relação dos cristãos
com expressões de valor próprio naquele contexto, com destaque ao
mote da “honra”, averiguando a diferenciação construída no
labor de tratar com as comunidades e seus conflitos e traumas,
apelando para dispositivos compartilhados internamente nelas ainda
que suscitando mudanças de paradigmas; também com elementos
próprios levantados por elas para destacar sua particularidade, como
“santidade” e “comunhão”. Farei uma breve defesa da
relevância dos temas da honra e do respeito, com a dignificação
dos inseridos na comunidade, para o senso de valor próprio
importantes no contexto.
Marcando
o caminho
Evitar-se
à uma abordagem eminentemente fenomenológica, para uma que tanja os
estados internos das pessoas tratando de como as expressão e pelo
quê buscam se pautar. Estes fatores subjetivos das pessoas são
examinados na comunicação dentro do contexto semântico na cultura
de seu ambiente histórico.
Sem
embargo, estudando aqui um fragmento no amplo tema do sentido de valor
próprio nas comunidades cristãs nascentes, farei uma aproximação
pelas cartas aos coríntios, mostrando como um missionário cristão,
Paulo, atenta sensivelmente para tal dilema e trabalha com as pessoas
a quem se vê incumbido de evangelizar e pastorear. O recorte na
comunidade dos coríntios se dá pelo contexto histórico da cidade,
a composição da comunidade, com predominância de gentios de
classes mais baixas mas também com presença de classes de maior
status; por como as fontes das cartas neotestamentárias proporcionam
uma vívida e rica fonte de recursos para vermos o debate das pessoas
com os temas do nosso trabalho; e o conflito dela com o pregador, em
que o pregador teve que fazer valer todos os recursos que fosse capaz
para confrontar o reflexo das dissonâncias sociais e culturais nas
ameaças que sacudiam a comunidade.
Não
é irrelevante novamente insistir: não buscar-se-á pautar-se por
uma análise psicológica, inquirindo sentimentos e emoções, mas em
termos de linguagem e costume. Contudo, não é possível evitar
interfaces com interesses psicológicos, lidando com reações e com
atribuição mútua e auto-atribuição de respeito, com motivações
de se buscar ou evitar comportamentos e atribuições; falando de
reconhecimento e dignidade, trata-se também de senso de estima e
busca de ter algum valor diante de algo ou alguém importante e
considerado.
Honra
e valor próprio: “o valor de uma pessoa a seus próprios olhos (…)
mais o valor dela no seu grupo social. Honra é uma pretensão de
valor junto com o reconhecimento social do valor”. [5]
Assim
o proeminente professor de Novo Testamento e Cristianismo Nascente da
Universidade de Creighton, Bruce J. Malina, autor de importantes
estudos neotestamentários sob o enfoque antropológico e dos estudos
culturais, apresenta a questão da significância da honra no mundo do
Novo Testamento como um dos “valores culturais fundamentais”. Ele
levanta questionamentos como fios metodológicos a quem se propor a
discutir, no tocante ao papel da honra:
- O que é vem a ser honra?
- Como a honra pode ser ganha ou perdida?
- O que é considerado honroso ?
- O que se espera de uma mulher ou homem honrado, de classe baixa, ou membro da elite?
- Que tipo de exemplos na história demonstram a honra e vergonha em ação?
Honra
e Glória, Vexame e Desprezo
Trago
aqui uma das mais importantes contribuições para a discussão da
problemática da honra nas sociedades, em que um proeminente filósofo
e expert reconhecido em estudos culturais a trabalha sob o enfoque do
quanto ela pode mexer com os comportamentos, padrões e sensos comuns
das sociedades. O ponto nevrálgico que Kwame Anthony Appiah,
professor de filosofia no Centro Universitário para Valores Humanos
da Universidade de Princeton e de Estudos Afro-americanos da
Universidade de Harvard levanta é que o conceito envolve as
propriedades consentidas e motivacionais para atribuir e/ou retribuir
dignidade e respeito, auferindo status social e plasmando a imagem da
auto-avaliação pessoal no contexto cultural vivido.

quer
efetivamente me respeitem ou não. Assim, o dever e a honra me
fornecem, ambos, razões que não têm nada a ver com as reações
efetivas de qualquer outra pessoa a mim – razões que, neste
sentido, são internas”. [6]
Desta
forma o conceito traz à tona sua carga de relevância para podemos
tratar das motivações externas relacionadas com os impulsos
interiores das pessoas, inseridas no bojo de um sistema social em que
buscam se imprimir e viver, que lhes oferece padrões de valores os
quais são assimilados e individualizados, agindo a partir de fora e
ressoando as respostas subjetivas, dado o prestígio que contém sua
representação; sem necessidade de ter de fazer uma análise dos
processos internos da mente não tendo instrumental para chegar-se
tão próximo.
“A
psicologia da honra tem uma ligação profunda com a autoconfiança e
com olhar o mudo nos olhos”. [7]
“Psicologia
da honra”? Sim, pela força interna que impele a pessoa para além
de apenas ajustamento social, mas o senso de estima própria e valor.
“Uma
forma de garantir que você está mantendo corretamente sua honra
talvez seja lembrar aos outros de que você conhece seu valor”. [8]
Justamente
trabalhando em cima do senso e escalas de valores que entretecem os
atores sociais que funcionam os mecanismos de designação daquilo
que honra e desonra, o que é digno de se exaltar e o que é digno de
humilhar, no ambiente social.
Falei
mais acima sobre “dispositivos compartilhados internamente”.
Isso é o que se observa na dinâmica do Bullying.
(…)
Se você quebra os códigos, a resposta apropriada dos outros é, em
primeiro lugar, deixar de respeitá-lo, e, em seguida, tratá-lo
ativamente com desrespeito.” [9]
O
impacto do bullying só existe porque há um “acordo” introjetado
entre expectadores, vítimas e agressores quanto a expectativas,
aceitações, símbolos, conotações, e sintagmas que significam e
projetam sentimentos e diferenciações de humilhação e exaltação,
orgulho e ridicularização. Se não fosse assim, chamar alguém
constantemente de apelido ou expô-lo publicamente não faria efeito,
pois não haveria o entendimento mútuo. É preciso que a linguagem
expresse a carga conotativa que transmita a comoção emocional. As
vítimas possuem expectativa de aceitação social, e estigmatizações
a inferiorizam e isolam ou infligem conflito interno, desprezo e
auto-flagelação.
Pois
a pessoa sente os efeitos da aviltação mesmo quando não mais
presente entre os agressores e expectadores, pois a maneira de se
enxergar passa a refletir a sua vexação, à medida que compartilha
dos códigos de honra e se vê fracassando em conseguir afirmar sua
dignidade. [10]
É importante entender que, embora a honra seja um título de direito ao respeito – e a vergonha surge quando você perde esse título – uma pessoa de honra se preocupa em primeiro não em ser respeitada, mas em ser digna de respeito. Alguém que só quer ser respeitado não se importa se esta realmente vivendo de acordo com o código; quer apenas que pensem que vive conforme o código.(…)Você sente vergonha quando não atende aos critérios do código de honra; e se sente envergonhado […] mesmo que ninguém mais saiba que você falhou. [11]
Neste âmbito ainda, também adquirimos uma instrumental visualizador para os arranjos
socialmente legitimados de recompensa e punição para aqueles que se
saem mais habilidosos em trafegar nas vias dos códigos de honra.
Nossa necessidade de dignificação nos reflexos das relações com
aqueles a quem desejamos obter reconhecimento, recai em nossa
autoestima. Como o filósofo Charles Taylor coloca, “ninguém
adquire as linguagens para autodefinição por si mesmo. Somos
apresentados a elas através das trocas com outros que importam para
nós – o que George Herbert Mead chamou de 'outros significativos'.
A gênese da mente humana, neste sentido, não é 'monológica', não
é alguma coisa que cada um conquista sozinho, mas dialógica”.
[12]. “A projeção de uma imagem inferior ou degradante sobre
outrem pode realmente distorcer e oprimir, na medida em que é
interiorizada”.[13]
Eis, então, o quadro: ter honra significa ter direito ao respeito. Em decorrência disso, se você quiser saber se uma sociedade se preocupa com a honra, primeiro procure ver se essas pessoas pensam que alguém tem direito a ser tratado com respeito. A próxima coisa é ver se esse direito é dado com base num conjunto de normas compartilhadas, um código. Um código de honra diz como as pessoas de certas identidades podem ganhar direito ao respeito, como podem perdê-lo e ainda, como o fato de ter e perder a honra muda a maneira como elas devem ser tratadas.”(...)“Um código de honra exige um comportamento específico das pessoas com determinadas identidades. (…) Mas as pessoas que respeitam um mesmo código pertencem a um mesmo mundo da honra, quer compartilhem ou não uma identidade. O que elas têm em comum é o fato de aceitarem as exigências que lhes faz o código em virtude de suas identidades e esperarem que os outros façam o mesmo.”(...)“Sejam qual for a maneira como chegou à sua honra – pelo êxito que levou à estima ou pelo reconhecimento de algum fato saliente que lhe concerte -, você pode perdê-la caso deixe de atender ao código. Se você se atém a um código de honra, não só reagirá com respeito àqueles que o cumprem, como também reagirá com desprezo àqueles que não o cumprem. [14]
Há
também a situação do conflito entre exigências morais que a
pessoa acredita, aceita e se orienta, que podem se firmar em
convicções da consciência individual ou dos consensos e motivações
de grupos em que o indivíduo faz parte e divide esperanças e
sentidos de vida, onde neles não se vê nem “atomizado” nem
“diluído em uma massa”, mas com uma identidade corporativa afim
mais estreita, e as exigências da sociedade mais ampla; não
implica diretamente em rebelião aberta junto a autoridade política
maior, mas reivindicações de direitos e reconhecimento de modos de
ser, junto a ela.
“Os
códigos de honra também podem exigir que as pessoas de determinadas
identidades façam coisas que são efetivamente imorais: os
assassinatos por honra são os mais óbvios”. [16].
Podem ser grupos de origens de vida, étnicos, religiosos, filosofias de vida, dentre outros. Um exemplo clássico recente deste conflito fora a desobediência civil dos movimentos negros estadunidenses, que sofriam discriminação e estigmatização generalizada de segmentos mais amplos da sociedade. Entra em choque aí a legitimidade da exigência de lealdade e serviço.[15] Mencionaremos mais à frente que tal situação não era bem vista, e muitas vezes duramente reprimidas, pelas autoridades imperiais de Roma.
Conforme já foi aludido, havia a temida pena da infâmia, inicialmente social, posteriormente estatal, aplicada contra aqueles que houvessem andado contra os ditames da moral, do direito e da honradez. [17]
Aceitação
Social, Distinção e Opóbrio no Sistema Histórico dos Coríntios:
Corinto é chamada 'próspera' por causa de seu comércio, em razão de estar situada no istmo e de controlar dois portos, dos quais um leva diretamente para a Ásia e o outro, para a Itália; isso torna fácil o intercâmbio de mercadorias entre duas nações assim distantes uma da outra. (…) Os Jogos Ístmicos ali realizados regularmente atraíam multidões. (…) E o templo de Afrodite era tão rico, que possuía mais de mil escravos e cortesãs. (…) Os capitães de navios esbanjavam desenfreadamente seu dinheiro, e daí o provérbio: 'Não é para qualquer um a viagem para Corinto'. [18]
![]() |
Placa de madeira pintada, encontrada em Corinto. Século VI a.C. Museu Arqueológico Nacional de Atenas |
No
estudo clássico do autor português Júlio Baroa, sobre a
configuração sociocultural da honra e vergonha no mundo antigo, ele
apresenta que na tônica geral, a fama e a infâmia
eram as expressões socialmente configuradas do que, com a honra
e a desonra, se era produzido nas subjetividades. “A honra
tem a sua expressão social naquilo a que se chama fama e a desonra,
na infâmia”. [19]
A consequência é que o caráter do zelo pela honra impelia à apreensividade com a reputação, que balizaria também as sanções sociais, fomentando a competição pelo renome. Assim, Renato de Souza Marques em sua dissertação de mestrado assinala “com efeito, existia a turpidudo que é por alguns autores chamada de infâmia fact. Tratava-se da má reputação de uma pessoa em virtude de práticas de ações menos dignas que, embora não lhe acarretassem a infâmia, traziam sobre ela o desprezo da sociedade”.
A consequência é que o caráter do zelo pela honra impelia à apreensividade com a reputação, que balizaria também as sanções sociais, fomentando a competição pelo renome. Assim, Renato de Souza Marques em sua dissertação de mestrado assinala “com efeito, existia a turpidudo que é por alguns autores chamada de infâmia fact. Tratava-se da má reputação de uma pessoa em virtude de práticas de ações menos dignas que, embora não lhe acarretassem a infâmia, traziam sobre ela o desprezo da sociedade”.
Em
Corinto, tais fenômenos se manifestavam num contexto de uma cidade em
ascensão econômica dinâmica devido à localização estratégica
para o fluxo comercial, pouco mais de duzentos anos após ser
assolada pelo general
romano Mummius; extremamente desigual,
cosmopolita, religiosamente pluralista, centro de diversas
imigrações, desde o envio de pobres urbanos de Roma após o começo
de sua reconstrução, até pessoas atraídas de toda a bacia
mediterrânea devido ao comércio; a cidade tinha engendrada uma
sólida organização de sistemas de patronato; estes sistemas
atuavam para conter os conflitos inerentes a advir dessa formação
social, fazendo
com que subgrupos
situados nos níveis inferiores da hierarquia social conferissem
legitimidade à estrutura de autoridade enxergando a necessidade
disto para sobreviver dada a coerção, almejando, graças às
propagandas ideológicas, possíveis oportunidades de longo prazo de
alguma mudança de condição dentro da pirâmide hierárquica. Os
grupos e subgrupos eram constituídos desde camponeses a
proprietários de terras, de soldados a oficiais e magistrados, de
almoxarifes, comerciantes a agiotas, de mascates a artesãos a
coletores de impostos, a sacerdotes e burocracia governamental. [20]
![]() |
ruínas da antiga cidade de Corinto |
“Corinto
era considerada uma cidade rica, na qual floresciam o comércio,
negócios financeiros e a produção artesanal, e onde havia um
grande número de cultos helenista-orientais.”. [21]
“Socialmente,
Corinto era uma cidade cuja população cosmopolita procedia de
todos os horizontes da bacia mediterrânea,
consequentemente, ali
se exerciam todas as profissões e se praticavam inúmeras religiões”
[22]
“Uma
adequada atividade de relações públicas era um importante fator de
sucesso na busca da fama e poder.
Em
suma, o patronato era uma das maneiras por meio das quais se
organizava a sociedade de Corinto. Devido a essas relações, pessoas
de diferentes níveis, do imperador ao cidadão de uma dada cidade,
achavam-se ligados, ainda que seus interesses pudessem não ser os
mesmos”.[23]
As
relações, imergindo no cotidiano, dinamizada pela criatividade das
pessoas, suas ambições e disputas, criava uma simbiose entre lados
opostos no diâmetro do poder que estabilizava o status quo.
Os indivíduos habitantes do império romano viviam em relações verticais de dependência. Essas relações eram caracterizadas pela troca recíproca de serviços e bens entre os da faixa social inferior e os que estavam acima. Com efeito, essas relações verticais definiam a identidade da pessoa mais do que seus contatos sociais no nível horizontal. 'Eu pertenço à casa de César' ou 'Este senador é meu patrono, eu apoio suas causas políticas, enquanto ele protege meus interesses econômicos e legais'. Tais afirmações definiam a identidade da pessoa (…). [24]
Tratava
de um fator aglutinador entre
os membros da sociedade complexa e estratificada, e um certo grau
de adesão e modelando desejos ou entendimentos de ser necessário ou
no mínimo conveniente adaptar-se em conformidade às exigências da
cultura e mantendo o funcionamento das normas estabelecidas.
Para sobreviver, a pessoa precisa desenvolver capacidades a fim de maximizar a possibilidade de ajuste bem-sucedido, fazendo uso de aptidões naturais ou adquiridas e de treinamento adequado.(…)Numa sociedade patronal orientada para o estado, na qual as convenções sobre a posição social e a profissão estavam firmemente estabelecidas, as questões sobre a extensão permissível da variabilidade em ultrapassar os limites sociais eram prementes. Como deviam associar-se adequadamente com outros de posição social diferente? As barreiras criadas pela função social da pessoa não deviam ser superadas levianamente. Essas barreiras não se limitavam ao status social, mas se aplicavam também à estatura moral. [25]
Conflitos
e Desintegração - “Não vou me adaptar”:
Não entendemos o culto cristão primitivo se não mantivermos diante dos olhos o fato de que, para o cristão gentio, o cristianismo era um culto substituto. Ele era, ao mesmo tempo, uma renúncia, um posicionamento devocional firme e exigente com profundas repercussões. [26]
Dentre
os elementos integradores e de coesão social, os sistemas cultuais
desempenhavam um papel precípuo. A interligação da estrutura
política, as regulações sociais e as práticas ritualísticas
conferia uma estabilidade dentro de um equilíbrio oscilante entre a
coerção social e compulsão a partir de dentro dos atores sociais,
no papel prestigioso das representações, crenças e práticas
agindo a partir de dentro de cada um e das famílias e comunidades
cultuais, inter-relacionando-se com as imposições político-sociais
agindo a partir de fora.
(...) Ou seja, o culto ao imperador formou uma grande parcela da rede de poder que constituía o tecido da sociedade.
O culto ao imperador estabilizou a ordem religiosa do mundo. O sistema do ritual era cuidadosamente estruturado; o simbolismo religioso evocava uma representação do relacionamento entre o imperador e os deuses. O ritual também tinha um caráter estruturante; ele impunha uma definição do mundo. O culto imperial, junto com a política e a diplomacia, construiu a realidade do império romano. [27]
Desta
forma a reverência e o culto imperial, centrado na imagem do
imperador mas amalgamado a todas as estruturas de poder de sua
sustentação, permeava e se entranhava na vida social com vigorosa
capilaridade.
Os festivais imperiais não eram por certo eventos casuais e mal planejados. Algumas celebrações estavam agregadas a festivais de divindades locais; outras eram cuidadosamente organizadas de modo regular; duravam um período significativo de tempo e, nos festivais provinciais, a cidade ficava repleta de visitantes. O culto ao imperador era sem dúvida parte da vida da cidade. [28]
Não
é de subestimar o confronto que resultaria com os cristãos, tendo
estes entregado-se a um apelo e visão de mundo em que se
comprometiam a um monoteísmo marcado pela rejeição a todas as
formas de culto que não ao seu Deus Criador, no qual unicamente
depositavam sua adoração e esperança, com um perigoso sinal a ser
interpretado pela sociedade, que era a elevada devoção e dedicação
de vida prestada a um crucificado pelo Império. [29]
Em 1 Co 8 e 10, Paulo lida detalhadamente com algumas questões inevitáveis para os cristãos que viviam em cidades romanas, questões sobre sua participação em atividades religiosas pagãs; e suas orientações exigem evitar essas atividades completamente. (…) Em 10,14-22, Paulo novamente exige que seus convertidos evitem completamente a participação no “culto aos ídolos” ( eidõlatria) e insiste que a participação na refeição sagrada cristã ( 'o cálice do Senhor […] a mesa do Senhor') é incompatível com misturar-se nas festividades religiosas dedicadas a essas outras deidades que ele chama aqui de 'demonios' (10,20-21). [30]
Abre-se
o palco para o acionamento de todas as sanções sociais e culturais
possíveis e imagináveis – além das políticas. Aos mais bem
educados e prósperos, minoria, a exclusão dos ambientes de
prestígio, ridicularização intelectual (haja vista que com os
pobres esta era dispensável). Aos de condições economicamente
exploradas, portas de mudança de status fechadas, imputação de
maior desonra, estigmatização, ostracismo. Todo o peso do que
concebemos como “bullying”. Em face de se tornarem párias
sociais, os cristãos se sentiam pressionados a responder à
situação; anomia, abandono do mundo urbano, cooptação,
capitulação, confronto aberto... ou rearranjar a hierarquia de
valores com uma reorganização, ou mesmo subversão, da lógica
interna das representações do que é importante e significativo
para a constituição da identidade e motivações de vida e
esperança que alimentam reinterpretações dos elementos
constituintes da integridade, importância e estima.
Talvez
devêssemos começar examinando uma comparação entre o arranjo
gregário na condução da comunidade com a organização da condução
do sistema social oficial.
Reversão
do ideal aristocrático:
Na Antiguidade, o papel do indivíduo na sociedade era determinado pelo seus status. Os opulentos e poderosos, em matéria de religião, filosofia e política, preferiam as ideologias que dessem sustentação à base de seu poder. [31]
Na
extensão religiosa do sistema social,
Sugere a existência de associações em Corinto na virada do século I d.C., se não antes, um monumento erigido pela associação das divindades tutelares da casa imperial no começo do século II.
Membros dessa associação coríntia, sob a liderança de dois de seus membros mais destacados, reuniram-se para prestar culto às divindades tutelares da casa imperial. (…) A estrutura da associação era hierárquica. Havia as divindades, os patronos ou líderes e os membros.Não por acaso, a estrutura de base de muitas outras associações lembra a de uma hierarquia patronal. [32]
Na
formação da comunidade cristã, em contraste, conforme I Co. 12 -14
a direção das comunidades era descentralizada e mais como
coordenadora do que hierárquica. Como vemos em 11,17-37, havia uma
espontaneidade com certa lógica de organização, pautada pela ideia
do Espírito ( I Co. 12,28), sem subordinação diretiva. Desses que
faziam o papel de coordenação, o senso de legitimação era dado
pelo abnegação em prol do crescimento do outro -I Co 8,13, sendo
este o norte também ao qual a comunidade deve aspirar para seu
crescimento, como mostra a incisividade de Paulo na coleta para os
“pobres de Jerusalém” - como em II Co 8 e 9.
Apreende-se
fortes sugestões de que um processo de reversão de valores fora
suscitado. Agora, o "gloriar-se" era despojado arrogar de autossuficiência ou brilho pessoal próprio; era o "gloriar-se no Senhor" - I Co. 1,30. O esplendor agora não era mais na jactância pessoal, mas na participação comunitária na humilhação e vindicação perpassadas pelo Messias. II Co. 4,7: Trazemos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós.
Respostas
compensatórias e auto-afirmativas nas comunidades cristãs
Nas
comunidades do cristianismo em formação, foi-se, naturalmente,
sentindo a necessidade de constituir um senso de demarcação,
delineamento, de um “nós próprios” ante “os outros”. A
comunidade de Corinto compartilha na sua orientação os princípios
que norteavam as diversas comunidades cristãs formadas nos centros
urbanos do império. Entretanto, aqui podemos apresentar com uma
tônica peculiar contrapondo com a contextualização feita.
Os termos com os quais Paulo define a identidade dos membros da ecclesiae são principalmente dois: “os santos” (hoi haghioi) e “os irmãos” (hoi adelfoi). O primeiro parece pertencer a um âmbito de natureza extra-humana, porque implica, antes de tudo, uma noção que faz referência direta ao fato de que Deus é haghios (santo). [33]
A
“Santidade” era o mais poderoso apelo enquanto meta moral
para cada um e para todos, inclusive, enquanto cada um ajudasse a
todos buscarem-na, e todos ajudassem a cada um, como balança para
sua fidelidade ao chamado existencial a serem cristãos: 1,2, 30. O
vórtice que engendrava a herança de onde brotava a fonte para essa
referência pode ser visualizada utilmente na passagem de
Deuteronômio, 14, 2 versão grega da Seputaginta, em que o termo
indicava aspectos identitários de serem “Consagrados a Deus”;
“pertencer a Ele como povo próprio”.
A
concepção de Santidade então para aquele ambiente de vida cristão
estabelece que ela provém de Deus, é outorgada, não algo essencial
da pessoa ou meritório dela, no que estabeleceria noções
aristocráticas ou competitivas.
I Co 1,2: “àqueles que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos, como todos os que em qualquer lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.”
I Co 1, 29-31: “o que no mundo é aviltado e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura possa vangloriar-se diante de Deus. Ora, é por ele que vós sois em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria proveniente de Deus, justiça, santificação e redenção, a fim de que, como diz a Escritura, aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.
I Co 6,11: “Mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus”.
Os
professores da Universidade de Bologna, Adriana Destro e Mauro Pesce,
respectivamente de Antropologia Cultural e História do Cristianismo,
conjugam muito bem a ótica da antropologia com inquirição
histórica e exegese textual no seu livro conjunto “Formas
Culturais do Cristianismo Nascente” na preocupação de fornecer
modelos conceituais que possam ser intercambiáveis entre as áreas
de pesquisa e discussão. Nesta linha procederam um comentário de
informação extremamente relevante sobre a questão do conceito de
“santidade” para o cristianismo em formação:
“Os
termos com os quais Paulo define a identidade dos membros da
ecclesiae são principalmente dois: “os santos” (hoi haghioi)
e “os irmãos” (hoi adelfoi).
O primeiro parece pertencer a um âmbito de natureza extra-humana,
porque implica, antes de tudo, uma noção que faz referência direta
ao fato de que Deus é haghios (santo).”
“
É
importante que em todos os quatro casos citados o substantivo “os
santos” esteja precedido pelo particípio passado “chamados”.
(…) Como a expressão “chamado apóstolo” indica que Paulo foi
constituído em sua função mediante uma escolha de Deus,
analogamente a “santidade” é divinamente comunicada aos fiéis.
Já por esse modo de usar o termo vê-se que a santidade, segundo
Paulo, parece definir uma condição recebida, que vem de fora graças
a uma intervenção divina. Não se trata de uma qualidade produzida
ou conquistada, efeito do comportamento moral do indivíduo”.
“O
termo 'os santos' não pode ser entendido a partir de concepções
atuais ou recentes do que é tido por santo ou do que seja a
santidade. (…) Em primeiro lugar, ele é aplicado a todos os
membros da ecclesia, o
que significa que todos os membros são iguais sob esse ponto de
vista, porque todos participam de uma condição compartilhada. No
cristianismo dos séculos posteriores, pelo contrário, somente
alguns serão considerados santos.” [34]
A
perspectiva da “santidade” então era vetorial, podia responder a
dois desafios difíceis de serem lidados sem ambivalência: ser um
especial campo de contorno identitário e um termo para
autoafirmação, para que fosse um contraponto de se enxergarem de
maneira positiva, não apenas por contraste. Era dizerem um “sim”
à existência, em intersecções com o plano da história, do cosmos
e da transcendência, e não apenas um “não” à cultura do
ambiente. Através dele se veem ligados a um plano redentor
histórico, de um Deus Criador, em uma união cósmica atemporal com
um Deus da História. Já não seriam apenas uma associação de um
grupo de afins, mas um povo, unidos a despeito das separações
e fronteiras de nacionalidades, classe, gênero, estabelecidas pela
ideologia imperial. Reimaginavam e se redefiniam enquanto um povo,
com raiz histórica e esperança para o culminar da história. Já
não sendo apenas cidadãos de Corinto, mas “Povo de Deus”, com
uma referência de identidade transfronteiriça, têm o caminho
aberto para reimaginar os valores de importância pessoal a partir de
novas bases e fundamentos.
Muitas vezes me causa grande impressão o modo como em 1 Coríntios 10,1 Paulo se dirige a uma grande Igreja de gentios afirmando que “nossos pais” estavam todos sob a nuvem e atravessaram o mar. Ele não precisa dar explicações, ele pode dar como certo que família de Deus em Cristo em Corinto é simplesmente a família que Deus resgatou do Egito, agora transformada e ampliada, mas sempre o mesmo povo.
O tema principal que caracteriza a teologia de Paulo sobre o povo de Deus renovado através do Espírito é o chamado renovado à santidade, uma santidade não definida pela Torá. (…) É esta uma santidade vinda do coração, como os profetas sempre quiseram, e também uma santidade que deve fazer as nações pagãs verem quem é, de fato, o Deus vivo. [35]
Importante
então a discussão paulina quanto aos “charismas”
- especialmente I Co. 12,1-11. Pois as ideias quanto aos dotes e
qualidades eram fundadas em termos aristocráticos de nascimento, ou
plutocráticos de conquista de riquezas, ou em termos de subjugação
do outro, legitimando-se uma visão essencialista da desigualdade e
hierarquia. A exibição de dotes e qualidades era para realçar os
valores emuladores de poder e rivalidade. A pressão para aqueles que
não se destacassem em preponderar e causar inveja era por demais
intensa, sempre pairando a guilhotina da “ninguendade”, do
sentimento de inferioridade e desfuncionalidade. A pressão era dupla
pois cumpria a função de estimular competências na competição
tanto para a vanglória pessoal, quanto uma plenamente utilitarista
na valia da pessoa para a sustentação do poder imperial.
1
Coríntios 1:26-29 - “Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que
não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos,
nem muitos os nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas
loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as
coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; E Deus escolheu
as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são,
para aniquilar as que são; Para que nenhuma carne se glorie perante
ele.”
As
novas referências e reimaginações que se incitava e reivindicava
em Coríntios colocava os dons e competências como somente tendo
valor em edificar a comunidade, no bem de todos, em referência a
união de cada um com o Messias que por sua vez, os unia através do
Espírito com o Criador. Eles não tinham do que se vangloriar, pois
nenhum destes dons fora adquirido ou era essencial à pessoa, mas via
de participarem na eleição histórica e cósmica da Divindade
Criadora e Redentora. A participação na comunhão mútua da
comunidade, com o Messias, dava acesso à Santidade – hagia,
que Deus outorgava, e por sua
vez, nesta se legitimava a manifestação de dons.
De fato, no entendimento paulino, o acesso àquilo que é haghios somente pode se dar através de uma nova maneira de se associar, a “assembleia de Deus” (ecclesia thou theou). (…) “Não se trata de comunidades 'escriturísticas', mas de formas de associação que, juntamente a uma mensagem, têm a certeza de terem obtido um dom divino particular (que Paulo chama de 'santificação'). É isso o que distingue o caráter desse modo de se associar e de se diferenciar do restante da coletividade, de outros núcleos ou grupos. [36]
Vendo assim, a visão moral da comunidade se referenciava no entendimento de serem
vocacionados, não mais para buscarem a glória dada pela
funcionalidade ao status quo,
mas uma vocação comunicada pela “Doxa”
Glória de Deus. Paulo entendia que isto era um substrato
compartilhado pela comunidade por fazer parte do anúncio da
evangelização a qual aceitaram, e ratifica isto neles lembrando que
estava no núcleo da sua concepção quanto a fonte de sua honra e
autoridade: 2 Co 3, 1-8 -
Porventura começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós?Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens.Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.E é por Cristo que temos tal confiança em Deus;Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus,O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória,Como não será de maior glória o ministério do Espírito?
Dela
brota a esperança ante a desalentos presentes: 4,17 - “Pois vossas
tribulações momentâneas são leves em relação ao peso de
glória que elas nos preparam até a abundância”.
De
onde vem então os laços de fraternidade, não enxergados enquanto
membros de um clube que conjuga interesses e afinidades em comum. Se
concebiam agora como irmãos, hoi adelfoi, por terem o mesmo
Pai Celeste, a quem deviam se reportar para manterem sustentada a
unidade na diversidade.
Paulo enxerga e combate o perigo de não se compreender a natureza da ecclesia, seja como uma unidade provinda de Deus, seja como uma fraternidade articulada em variedade de comportamentos.
A necessidade de assumir comportamentos coerentes com a qualidade de 'irmãos' aparece no epistolário com as denúncias de comportamentos específicos que contrastam com o amor recíproco. [37]
A
noção de honra então amplia-se para a coletividade; deviam se
pautar não apenas pela honra pessoal, mas em honrar a comunidade,
evitando a vergonha dela ante “os de fora”. I Co 5, 9-13.
Depunham contra os laços fraternos reais, transformando-os apenas em
efeito de retórica, se a auto-organização da comunidade não fosse
capaz de mediar suas contendas internas e suscitar um espírito de
alteridade : I Co. 6, 1-8. Os laços de solidariedade não podiam se
dar apenas no íntimo dos membros, apenas em manifestos emocionais,
mas deveria repercutir em compleições comunitárias efetivas,
atitudes e posturas novas na conformação desta, que poderia
fazê-los entrar em choque com apelos a costumes na cidade que lhes
fizesse uma demanda contrária.
“Em
sua preocupação com a 'construção' da assembleia de santos em
contraposição às redes de relações de poder mediante as quais se
constituía a sociedade imperial, ele não podia permitir que quem
tinha ingressado na assembleia participasse dos banquetes
sacrificiais por meio dos quais essas relações sociais eram
ritualmente estabelecidas. Em 1 co 10,14-22, Paulo insiste na
solidariedade político-religiosa contra a sociedade dominante,
constituída precisamente nesses banquetes ou 'comunhão/parceria'
com os deuses. Para os membros da nova comunidade alternativa, isso
significava afastar-se por inteiro dos próprios recursos por meio
dos quais suas relações socioeconômicas essenciais eram mantidas
antes”. [38]
A
atitude da comunidade então se expressava com uma inversão da
hierarquia de valores; mas não eram convocados a desconsiderar os
valores. Não cabia ignorar o discurso romano da virtude, diligência
e valor, o que implicaria em desintegração social. II Co. 1,12: Porque
a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que
em santidade e sinceridade de Deus, não em sabedoria carnal, mas na
graça de Deus, temos vivido no mundo, e mormente em relação a vós.
Também, em
Também, em
Porque,
ainda que eu me glorie mais alguma coisa do nosso poder, o qual o
Senhor nos deu para edificação, e não para vossa destruição, não
me envergonharei. II Co.10,8, ou em II Co 3,10 – uma
glória não passageira, mas perene, da 'aliança do Espírito' -
dentro do contexto em que retoma-se a tradição de Moisés, a glória
aí significa expressão visual extraordinária da honra dada a
pessoa]; apenas os princípios de importância
e consideração tinham sua carga conotativa reimaginada,
reelaborando as proporções de méritos e considerações a partir
do fundamento no Messias Crucificado. Os termos ainda possuíam
indispensável relevância para a ética e moral, inclusive
provocando estímulos para manterem a fidelidade aos seus princípios
identitários.
“Paulo
nega o valor da opinião dos não cristãos com os termos mais
veementes, erigindo um tribunal alternativo da fama, formado por
Deus, Cristo, a Igreja supra local e a comunidade cristã local. Ele
reafirma sua credibilidade e fidedignidade dos membros de sua equipe,
de modo que as atribuições de honra e a censura deles terão o peso
necessário para guiar a comunidade”. [39]
Por
exemplo, as noções de honra e vergonha eram aplicadas para inibir
comportamentos que ameaçavam a santidade; confira I Co 4,14;
5,11;11,4-6,17;15,34. O crucial era manterem avivada sempre a
compreensão de que é no Messias de Deus é a nova fonte de
prestígio: 1 Co 4,7. Deus concorre com as reivindicações da
cultura imperial.
Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor.Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva. II Coríntios 10:17-18 [ interessante ler sob a luz de João 8,50]
“Enquanto
os crentes julgarem apelando para os padrões mundanos, a opinião
deles fica, evidentemente, excluída. Sempre que eles aceitam o
critério de medida da semelhança à Cristo e do aprazimento de
Deus, eles podem tornar-se importante fonte de apoio e de correção
para o fiel em particular. Primeiramente, os fiéis precisam
honrar-se mutuamente: transmitir um ao outro a honra que cada membro
recebeu de Deus”. [40]
Indignamente
Mas
a situação estava longe de ser configurada como a ideal. Além do
repto para reorganizarem sua orientação existencial, o desafio de
reidear a vida social e seus arranjos de vida em comum muitas vezes
em termos dissimilares e insólitos aos padrões estabelecidos e que
eram mais universais, o natural estranhamento ao que lhes era
requerido na escala de valimentos, os hábitos não deixam de ser
arraigados apenas por uma irrupção decisão volitiva, quando mais
considerando que eles continuavam
a viver urbanamente, mantendo suas profissões, relações familiares
e deveres cívicos. Os apelos da sociedade não são
desconsideráveis, as tentações recaiam que as formas acomodadas de
estruturar as relações sociais conferiam mais estabilidade e
previsibilidade à vivência, e por serem incutidas ao longo da vida
de forma difusa, intensiva e expressiva, estavam introjetadas no
inconsciente as fórmulas e processos de recompensa, submissão,
satisfação e dependência. Poderia acontecer dos cristãos serem
cooptados e com formatos particulares à sua religião, reproduzirem
as lógicas de aspirações, dilecções e deferências
nobiliárquicas imperiais.
Isto
estava subjacente e permeando as divisões em facções na comunidade
de Corinto: I Co. 1,1-4,9. O caráter desses partidos era articulado
em torno de identificação com status de classe e afinidades com
hierarquias de valorizações intelectuais em Corinto. Desta forma
perdia-se de vista o discernimento da fonte do valor próprio
brotando da união com o Messias Crucificado, dos dons serem
outorgados por Deus por meio do Espírito para edificar a comunhão
plena dos vocacionados, independente de qualquer reivindicação de
mérito inato ou conquistado.
I Co.4, 7: Pois quem te distingue? Que possuis que não tenhas recebido? E se recebeste, por que haverias de te ensoberbecer como se não tivesses recebido?
Na
sociedade greco-romana, os patronos acomodavam os membros de sua
própria classe social elevada no triclinium (cômodo
especial, o melhor da casa), ao passo que os demais eram servidos bem
à vista do triclinium, isto
é, no atrium (os
divãs que podiam acomodar, sentados, até quarenta pessoas). Aos
convidados acomodados na sala mais espaçosa eram servidos comida e
vinho inferiores, e com frequência se queixavam da situação. [41]
A
expressão máxima da assimilação dos motivos e medidas de valor,
do discurso de legitimação dos poderes imperiais e modus operandi
nobiliárquico romano se dava no encontro de principal significação
para a comunhão cristã nascente, a “Ceia do Senhor.” - I Co.
11,17-34. Nela se vê engendrada a estruturação dos tratos
interclassistas. Se incorporava as representações e sentidos de
status, dignidade de estima, valor humano, nos jogos de posições,
ostentações, classificações, de acordo de como se dispunham os
membros das comunidades, e os comes e bebes do encontro sagrado. Os
papeis de cada indivíduo eram distribuídos segundo estereótipos
estabelecidos nas convenções sociais, assim como simbolicamente, as
porções e usufrutos daquilo que deveria ser partilha de boa-vontade
e alegria para expressar a novidade de vida.
"Embora
fosse o lugar de o patrono exibir sua riqueza, elogiar a si mesmo e
recompensar o serviço de seus clientes, a mesa do jantar era o lugar
em que os clientes tinham de cumprir seu dever, ainda que lhes
causasse inconvenientes. O alimento era o primeiro testemunho de suas
posições desiguais. Não era incomum que os satiristas
protestassem contra o oferecimento a clientes de comida e vinhos
inferiores, enquanto se serviam comida e vinho superiores ao
anfitrião e seus honoráveis amigos. A distribuição dos lugares
contava a mesma história. O lugar de honra ou a terceira posição
na mesa do meio, às vezes próximo do anfitrião, era reservado ao
principal convidado. Os clientes comuns teriam compreensivelmente de
ocupar lugares menos honrados, o mesmo ocorrendo com os libertos. Os
escravos e os pobres tinham simplesmente de jantar sobre um tapete ou
encostados na parede. Mas a diferença entre o patrono e seus
clientes ia além disso. Porque para ser um cliente bem-sucedido, era
preciso seguir a regra de ouro, ou seja, agradar o patrono e tentar
adaptar-se à sua opinião. “ [42]
Reproduzindo
essas relações oligárquicas, o Encontro se deslegitimava como
espaço de culto, de comunhão com o sagrado – 11,20, se
convertendo em profanação – 11,27, 29. Incorporando os critérios
de sucesso do discurso do status quo, incorriam em fracasso com a
santidade, fraternidade e honra sob o prisma de serem um novo povo,
11, 28-30.
Não
se alegra com a injustiça: considerações em ética

A
vontade de dominar, estigmatizar, bem como uma configuração social
desigualitária e inequânime estruturada neste norte, muitas vezes é
travestida, paradoxalmente, de “defesa dos valores e da tradição
cristã”, quando acaba sendo realmente uma negação do que se
constituía a grande subversão da mensagem evangélica ante ideais
sociais assim. Se o cristianismo antes virava o discurso de
legitimação imperial contra si mesmo, pode ocorrer de cristãos
inverterem a coisa.
A
contraposição, calcada em fundamentos da adoção e vocação em
graciosidade pelo Deus em quem esperavam participar de um projeto
renovador da criação (II Co. 5,17), pautando desta forma a compreensão
igualitária, empática e altera, se diferenciando da sociedade
oposta a isto na compreensão da “santidade”, das novas noções
de honra e vergonha opostas as que eram usadas pra justificar a
nobiliarquia da sociedade patriarcal e plutocrática romana, se
perdida de vista, acarreta em despedaçar o “Corpo” do Messias no
espírito corporativo da comunidade.
Espero
que este estudo ajude nesta tarefa, em que isso deve ser
constantemente evocado e refletido entre os que se consideram
cristãos, quando veem ampliar as oportunidades econômicas e
sociais; quando se diversifica a composição das condições
econômicas e de “status” social, entre os membros, as posições
na sociedade se ramificam e capilarizam, e seu poder de influenciar e
de afetar a feição política se amplia. Deveriam se pôr no lugar
de grupos estigmatizados e marginalizados, e entender sob o prisma do
que já sofreram, não simplesmente pensando “agora nós podemos”
e descontando em outros. Considerar se estão sendo pautados pela
sede de brilho e destaque elitista. Se reforçam as estratificações
sociais baseadas em estereótipos. Sem ceder aos apelos que
predominam de chauvinismo e acepção de pessoas. Isto é adorar “o
Deus deste mundo”, pois é a lógica de poder, representação e
estima do sistema histórico vigente.
O
exemplo de Corinto é vigoroso; infelizmente mostra como transigir
com a busca de poder e honra competitiva se torna uma tônica; no
final do século I, algumas poucas décadas após a morte de Paulo,
novamente se escrevera uma Carta aos Coríntios, desta vez por parte
de Clemente, um dos presbíteros da igreja em Roma:
Capítulo
1, vs 1:
Por causa das desgraças e calamidades que repentina e continuamente se abateram sobre nós, talvez estejamos a tratar tardiamente dos acontecimentos que se deram entre vós, meus caros, e daquele motim, não conveniente a eleitos de Deus, iniciado por algumas pessoas irrefletidas e audaciosas, de uma forma sórdida e ímpia, surgido de tal ponto de loucura, que o vosso nome, dantes estimado, acatado e celebrado por todos, fosse seriamente denegrido.
Capítulo
46:
5 - Por que entre vós existem disputas, ódios, contendas, cismas e guerras?
6 - Acaso não temos um só Deus, um só Cristo e um só Espírito da graça derramado sobre nós e uma só vocação em Cristo?
7 - Por que insistimos em separar e despedaçar os membros de Cristo, nos
revoltando contra o próprio corpo, chegando a uma loucura tal que nos esquecemos que somos membros uns dos outros? Lembrai-vos das palavras de Nosso Senhor Jesus,
9 - Vosso cisma perverteu a muitos, atirou muitos no desânimo, colocou muitos na dúvida, entristeceu-nos a todos. E vossa revolta se prolonga...
47:
7 - E tal rumor não chegou apenas até nós, mas atingiu também a outros que possuem as mesmas convicções que nós, a ponto de se proferirem blasfêmias ao nome do Senhor por causa da vossa insensatez, por armar perigo para vós próprios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
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- E. A Judge, citado por JEWETT, Robert, “Paulo, a vergonha e a
honra”, em SAMPLEY, J. Paul (org.), Paulo no mundo greco-romano:
um compêndio. São Paulo:
Paulus, 2008. Pg. 488
2
– O estudo mais proeminente sobre a crucificação e sua carga no
imaginário dentre os povos no império romano continua sendo o
clássico: HENGEL, Martin. Crucifixion in the Ancient World & the Folly of the Message of the Cross. Philadelphia, PA. Fortress Press, 1977
3
– HENGEL, Martin. Property
and Riches in the Early Church: Aspects of a Social History of Early
Christianity,
Philadelphia Fortress Press, 1974.
4
– HURTADO, Larry. As Origens da Adoração Cristã: o caráter da
devoção no ambiente da igreja primitiva. São Paulo: Vida Nova,
2011. pgs. 18 e 23.
5
– MALINA, Bruce J. The New Testament World: Insights from cultural
Anthropology. Louisville:
Westminster John Knox Press, 1981 (3rd
Revised Edition, 2001).
pg 27.
6
– APPIAH, Kwame Anthony. O Código de Honra: Como ocorrem as
revoluções morais. São Paulo, Companhia das Letras, 2012. pg 185
7
– ibid, pg 17.
8
- ibid, pg. 35
9
– ibid, pg. 34
10
– SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullyin: Mentes perigosas na escola.
São Paulo: livraria da Folha, 2010.
11
- APPIAH, op. cit., pg. 34
12
– TAYLOR, Charles. A Ética da Autenticidade. São Paulo:
Realizações Editora, 2011. pg. 43
13
– ibid, pg. 58
14
– APPIAH, op. cit., pgs. 181, 182, 183
15
- WALZER, Michael. Das
Obrigações Políticas:
Ensaios Sobre Desobediência, Guerra e Cidadania.
Rio
de Janeiro: Zahar Editores, 1977.
pgs 20-27.
16
– APPIAH, op. cit., pg. 181.
17
- CRAVEIRO,
Renato de Souza Marques. O direito à honra Post Mortem e sua
tutela. Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de
Direito Civil da Faculdade de Direito da USP. USP, São Paulo, 2012.
pg. 26
18
- Estrabão, Geografia 8, 6-19.
19
- BAROJA,
Júlio C. 1971 [1965]. “Honra e Vergonha: exame histórico de
vários conflitos”. In J.G. Peristiany (org.). Honra
e Vergonha: valores das sociedades mediterrâneas.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
20
- SHIPLEY,
G. 2000. The
Greek World After Alexander 323-30BC.
London: Routledge pg 384-385
21
– SCHENELLE, Udo. Paulo: vida e pensamento. São Paulo: Academia
Cristã/Paulus, 2010. pg. 236
22
- CARREZ,
M. Primeira
carta aos coríntios.
São Paulo: Paulinas, 1993. pg. 56
23
– CHOW, John K. “Patronato na Corinto Romana”, em HORLSEY,
Richard H. (org.) Paulo e o império: religião e poder na sociedade
imperial romana. São Paulo: Paulus, 2004. pg. 122
24
– LEMPE, Peter. “Paulo, os Patronos e os Clientes”, em
SAMPLEY, J. Paul (org.), Paulo
no mundo greco-romano: um compêndio. São
Paulo: Paulus, 2008. Pg. 429.
25
- GLAD, Clarence E.. “Paulo e a Adaptabilidade”, em
SAMPLEY, J. Paul (org.), Paulo
no mundo greco-romano: um compêndio. São
Paulo: Paulus, 2008.
26
– HURTADO, op. Cit., pg 18
27
– PRICE, S.R.F. “Rituais e Poder”, em
HORLSEY, Richard H. (org.) Paulo e o império: religião e poder na
sociedade imperial romana. São Paulo: Paulus, 2004. pg. 76.
28
- PRICE,
S.R.F. op. cit. pg. 66
29
– Em uma passagem escrita no século I a.C. Pelo o filósofo e
advogado Marco
Túlio Cícero,
podemos ver a expressão máxima de vergonha e horror que
representava ser crucificado:
"um castigo
muitíssimo cruel e repugnante". (...)"Atar um cidadão
romano e crime, chicoteá-lo e abominação, matá-lo e quase um ato
de assassínio: crucificá-lo e — o que? Não ha palavras que
possam descrever ato tao horrível". Em um discurso advogando pelo senador Gaio Rabirio, acusado de homicídio: "a própria
palavra cruz deve
ser removida para longe não apenas da pessoa do cidadão romano, mas
também de seus pensamentos, olhos e ouvidos. Pois não e somente a
ocorrência destas coisas ou a
capacidade de suportá-las, mas a possibilidade delas, a expectativa,
deveras, a mera menção delas, que e indigna de um cidadão romano e
de um homem livre". Em:
Against Verres II.
V. 64, paragrafo 165. e V. 66, paragrafo 170. Observa-se que a
preocupação condenatória se restringiu a cidadãos romanos.
30
– HURTADO, Larry. Senhor Jesus Cristo: devoção a Jesus no
cristianismo primitivo. São
Paulo: Paulus, 2012. pg. 82
31
– KEENER, Craig. S. Comentário Bíblico Atos: Novo Testamento.
Belo Horizonte: Atos. 2004. pg. 469.
32–
CHOW, op.
cit. pg. 123
33
– DESTRO, Adriana e PESCE, Mauro. Formas Culturais do Cristianismo
Nascente. Aparecida: Editora Santuário, 2010. pg. 68
34
– ibid, pg. 68, 70 e 71.
35
– WRIGH, N. T. Paulo: Novas Perspectivas. São Paulo: Edições
Loyola, 2009. pgs. 146 e 155.
36
– DESTRO e PESCE, op. Cit., pg. 76
37
– ibid, pg. 85
38
– HORSLEY, Richard. H. “I Coríntios: estudo de caso da
assembleia de Paulo como sociedade alternativa”, em HORSLEY, op.
cit, pg. 244.
39
– DeSILVA, Daniel A. A Esperança da Glória: Reflexões sobre a
honra e a interpretação do Novo Testamento. São Paulo: Paulinas,
2005. pg. 237
40
– ibid, pg. 227
41
– KEENER, op. cit., pg 494.
42
– CHOW, op. cit. pg. 127
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