Débora e Baraque, Século XIII, Saltério de São Luiz, via wikicommons |
Como abordamos anteriormente, a utilização do Antigo Testamento como fonte histórica gera uma divisão entre arqueólogos, historiadores e biblistas no campos minimalista e maximalista. Entre aqueles que entendem que a narrativa dos livros históricos da Bíblia deve ser considerada como factual até que expressamente contradita pela evidência literária ou arqueológica contemporânea, e aqueles que defendem que o texto bíblico somente deve ser utilizado quando "provado" por evidências externas.
Na prática, porém, tais visões demarcam os extremos, estando a grande maioria dos pesquisadores entre esses polos. O período a ser considerado também é extremamente relevante, uma vez que há atestação muito maior para os reinados de Omri ou Ezequias do que, por exemplo, o tempo de Isaque e Jacó.
Professor Michael Coogan, de Harvard, ilustra como a evidência diferenciada entre os vários períodos descritos na história bíblica orienta a percepção dos estudiosos:
"The evidence, then, is fragmentary, but when all of it is considered - texts from the ancient Near East, the Bible, and archeological data - it does, generally, fit together. An analogy is a large jigsaw puzzle that is missing many of its pieces - but enough of them fit so that the reconstruion is probable, if not certain. This applies to chronology, and thus to persons or events, throughout the first millennium, that is, from the time of the dividion of the United Monarchy of Israel in the late tenth century to the time of the Maccabees in the second century BCE. With some diffidence we may push this back slightly, to David and Solomon, the second and third kings of Israel in the tenth century, but probably not before (tradução) As evidências, então, são fragmentárias, mas quando todas são consideradas - textos do antigo Oriente Próximo, a Bíblia e dados arqueológicos - geralmente se encaixam. Uma analogia é um grande quebra-cabeça do qual faltam muitas de suas peças - mas cabem em número suficiente para que a reconstrução seja provável, senão certa. Isso se aplica à cronologia e, portanto, a pessoas ou eventos, ao longo do primeiro milênio, isto é, desde a época da divisão da Monarquia Unida de Israel no final do século X até a época dos Macabeus no segundo século AEC. Com alguma hesitação, podemos recuar um pouco, para Davi e Salomão, o segundo e o terceiro reis de Israel no século dez, mas provavelmente não antes[1]
Assim, a postura minimalista ou maximalista, para a grande maioria dos estudiosos, é uma abordagem metodológica que leva em conta as particularidades de cada período. De Gênesis até, digamos, I Samuel (ou Juízes) e do tempo de II Samuel em diante. O posicionamento dessa "fronteira" é objeto também de intensa discussão. Eric H. Cline, Professor da Universidade George Washington, é outro a demarcar a "fronteira" em termos de atestação externa de figuras e eventos bíblicos, considerando as descobertas arqueológicas relativas aos cananeus, sírios, hititas, egípcios e povos da Mesopotâmia, mas que indica também um território não tão bem demarcado, entre, digamos, o século XIII AC (data tradicional do Êxodo) e o início do século X AC (divisão dos reinos de Israel e Judá).
"such discoveries have shed relatively little light on the actual stories found in the Hebrew Bible - particularly those in Genesis ans Exodus. As a result, many of the earlier stories of the Hebrew Bible, especially those from Creation to the Exodus, have not been corroborated by archeologists and remain a matter of faith. On the other hand, events from a slightly later period, i.e., during the era of the Divided Kingdoms in the first millenium BCE after the empire of David and Solomon broke assunder, benefit from extrabiblical inscriptions, records, and other data that can be used to corroborate biblical details. (tradução) tais descobertas lançaram relativamente pouca luz sobre as histórias encontradas na Bíblia Hebraica - particularmente aquelas em Gênesis e Êxodo. Como resultado, muitas das histórias anteriores da Bíblia Hebraica, especialmente aquelas da Criação ao Êxodo, não foram corroboradas por arqueólogos e permanecem uma questão de fé. Por outro lado, os eventos de um período ligeiramente posterior, ou seja, durante a era dos Reinos Divididos no primeiro milênio antes da era cristã, depois que o império de Davi e Salomão rachou subitamente, se beneficiam de inscrições extra-bíblicas, registros e outros dados que podem ser usados para corroborar detalhes bíblicos.[2]
Vamos esse período de "fronteira", abordando algumas evidências arqueológicas desse período entre os século XIII e X AC, período antecedente ao Livro de Reis, descrito nos livros de Josué, Juízes e I e II Samuel.
1) A Estela de Merneptah, 1208 AC
Estela de Merneptah, Museu do Cairo, via wikicommons
Os israelitas viviam entre os cananeus, os hititas, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Tomaram as filhas deles em casamento e deram suas filhas aos filhos deles, e prestaram culto aos deuses deles. (Juízes 3:5-6);
O Faraó Merneptah (1213-1203 AC) empreendeu uma campanha militar na Palestina no 5° ano do seu reinado (c. 1208 AC). Os egípcios tinham importantes interesses no território, recolhendo tributos dos reis cananeus e utilizando como "tampão" frente a expansão do Reino de Mittani, e posteriormente, do Império Hitita.
Para celebrar suas vitórias, Merneptah comissionou uma inscrição, descoberta em 1896, em Tebas, por Sir Flinders Petrie. Hoje a estela de Merneptah, se encontra no Museu Egípcio, no Cairo.
Os principes se prostraram, dizendo, "Paz!"
Ninguém levanta a cabeça entre os nove arcos.
Agora, os Tehenu (Libia) foram arruinados,
Hatti foi pacificada;
Canaã foi despojada de toda a maldade:
Ascalon foi conquistada;
Gezer foi capturada;
Yenoam já não existe.
Israel foi destruído e sua descendência já não existe;
A Siria tornou-se uma viúva para o Egito.
A menção a Israel por Merneptah é a primeira em fontes egípcias e extrabíblicas. Professor Mario Liverani, da Universidade de Roma La Sapienza, comenta sua significância:
"(...) Uma estela de Merneptah celebra o triunfo do faráo numa campanha dele através da Palestina, citando entre os inimigos vencidos cidades como Ascalon e Gezer, países como Canãa e Kharu, acompanhando esses nomes com o determinativos de "região"; mas entre eles há um nome com o determinativo de "gente" (portanto, um gupo tribal, não sedentário) e é Israel. É a primeira menção em absoluto do nome, que, provavelmente deva ser posto na zona dos altiplanos centrais. Na verdade, a sequência das três localidades Ascalon-Gezer´-Yeno'am está como enquadrada entre os dois termos (mais amplos) Canaã e Israel; e se Canaã se situa por certo no início da sequência, na planície costeira do sul, Israel se situa por certo também nos altiplanos centrais. [3]
O fato de Israel ser citada é significante por ser uma menção que atesta a existência de um grupo tribal que vagava na Palestina, principalmente nas regiões montanhosas centrais, sem uma associação definida as cidade estado cananeias, e sem constituir ainda um estado organizado, o que é consistente com o contexto geral descrito no livro de Juízes. No entanto, a estela faz menção a um conflito que não é mencionado na Bíblia. Da mesma forma, o domínio dos egípcios sobre Canaã não é uma memória existente nos livros de Josué e Juízes, ainda que a presença dos israelitas, como um dos causadores de problemas para os egípcios não tenha passado desapercebida.
Liverani descreve a natureza da dominação egípcia:
Por cerca de três séculos (1460 - 1170 AC) a Palestina foi submetida ao domínio direto dos Egípcios (...) o controle egípcio era em grande parte indireto e os "pequenos reis" locais conservaram sua autonomia (mas não a independência) como "servos" e tributários do Faraó. O quadro fornecido pelas cartas de El-Amarna (1370-1350 AC) mostra que somente três centros siro-palestinos eram sede de governadores egípcios: Gaza na costa meridional, Kumidi na Beq'a Libanesa e Sumura na costa setentrional, junto a atual fronteira siro-libanesa. Havia guarnições egípcias também em algumas outras localidades: Jafá (perto da hodierna Tel Aviv) Bet-She'an (na passagem entre a planície de Yizre'el e o vale do Jordão), Ulaza (na abertura para o mar da via proveniente do vale do Orontes). Calculando as pequenas guarniçoes permanentes e a tropa que (como veremos) efetuava o giro anual de cobrança, pode-se calcular que o Egito do período armaniano empregasse na gestão e no controle de seu "império" siro-palestino não mais que setecentas pessoas [4]
Dessa forma, para um habitante comum de Canaã do século XIII AC, a presença militar egípcia passaria praticamente desapercebida, fora da base de Bete Seã. Não era, portanto, um cenário de ocupação, mas de suserania, onde os reis das cidade-estado cananeias prestavam fidelidade ao Faraó, pagavam tributo, e davam satisfações (como indicam as cartas de Amarna), mantendo porém um grau elevado de autonomia para tratar dos assuntos do dia a dia. Era um esquema que permitirá aos egípcios manterem seus interesses por quase 300 anos, recebendo tributo, e com manutenção de força militar e administrativa mínima.
Deve ser observado ainda, que o discurso triunfalista de Merneptah esconde o enfraquecimento do domínio egípcio, que estava utilizando seus recursos para enfrentar os vários inimigos descritos na Estela, simultaneamente, sejam cananeus, povos do mar (Filisteus), israelitas ou líbios. Assim, a despeito de seu discurso triunfante, a estela captura um momento em que a hegemonia egípcia era questionada, súbita e intensamente, em varias frentes.
Professor Kenneth Kitchen, egiptologista da Universidade de Liverpool, contextualiza os vários inimigos mencionados na Estela de Merneptah, e seu papel na queda da hegemonia egípcia sobre Canaã:
Then new factors came in circa 1230 onward, clearly attested in first-hand Egyptian texts. Rebuffed by Egypt (ca 1177), the Sea People ended up in Canaan - the Pilisti or Philistines in the southwest, and Sikils and Shekelesh farther north (Dor, Jezreel). In Transjordan, new names appeared: Edom and Moab, plus the Ammonites (as yet unmentioned in contemporary texts). Arameans now become more prominent from the north. And, as Merneptah made clear in 1209, a group called Israel was present in Canaan, most likely in the hill country. All these peoples were to have a long and varied history for the next six or seven centuries (...) we have an outline, basic correspondence of the two sources, Egyptian and Biblical. (tradução) Então, novos fatores surgiram por volta de 1230 em diante, claramente atestados em textos egípcios contemporâneos. Repelidos pelo Egito (cerca de 1177), o Povo do Mar acabou em Canaã - os Filisti ou Filisteus no sudoeste, e Sikils e Shekelesh mais ao norte (Dor, Jezreel). Na Transjordânia, novos nomes apareceram: Edom e Moabe, mais os amonitas (ainda não mencionados em textos contemporâneos). Os arameus agora se tornam mais proeminentes no norte. E, como Merneptah deixou claro em 1209, um grupo chamado Israel estava presente em Canaã, provavelmente na região montanhosa. Todos esses povos estão para posicionados para uma longa e variada história pelos seis ou sete séculos seguintes (...) temos assim um esboço, correspondência básica das duas fontes, egípcia e bíblica.[4]
Os egípcios devem também ter ficado alarmados, assim, com o aparecimento súbito desses vários atores no cenário canaanita. No que tange aos israelitas, surgem, em número considerável, vilas e povoados, nas montanhas da Palestina na segunda metade do século XIII AC, com vertiginoso crescimento ao longo da Idade de Ferro I (1200 a 1000 AC)
Professor Israel Finkelstein, da Universidade de Tel Aviv, elaborou um levantamento arqueológico nas terras altas centrais da Palestina (correspondente ao antigo Efraim, e depois Samária) entre 1250 e 1000 AC com os seguintes resultados:
"A queda das cidades-Estado do Bronze Tardio e o colapso do governo egípcio em Canaã resultou em dois processos distintos. Nas terras altas, uma onda de assentamentos que pode ter se iniciado tão cedo quanto no final do século XIII AC, e acelerado nos séculos XII e XI AC (Finkelstein, 1988). O número de sítios cresceu dramaticamente, de cerca de 30 sítios com uma área total construída de aproximadamente 50 hectares no Bronze Tardio II (século XIII AC) para algo como 250 sítios com uma área construída de aproximadamente 220 hectares dois séculos e meio depois, no Ferro Tardio I (o início do século XII AC). Isso significa que a população sedentarizada aumentou ao menos quatro vezes seu tamanho. (...) A maioria desses assentamentos continuou ininterrupta até o Ferro IIA-B - o tempo do Reino do Norte - e disso eles podem ser rotulados "israelitas" tão certo quanto o Ferro I. Em outras palavras, essa onda de assentamentos fez nascer o Israel Primitivo (Finkelstein, 1988, Faust, 2006) [5]
Kenneth Kitchen, complementa os dados da pesquisa de Finkelstein, já referenciada acima, com o levantamento de Adam Zertal (1936-2015), na região imediatamente ao norte, correspondente as áreas montanhosas da tribo de Manassés:
Surface surveys have been undertaken in some depth in central Canaan, notably by the Filkenstein team in the terrain of ancient Ephraim/Samaria, and by Zertal and colleagues in the adjoining territory of ancient West Manasseh. (...) Next door in West Manasseh, Zertal note some 39 sites for Late Bronze but over 200 for Iron I, again a huge increase. This great rash of farmsteads, hamlets, and small villages represents a wholly new development, as universally admited (tradução) Os levantamentos da superfície foram realizados em alguma profundidade no centro de Canaã, notavelmente pela equipe Filkenstein no terreno da antiga Efraim / Samaria, e por Zertal e colegas no território adjacente da antiga Manassés Ocidental. (...). No vizinho Manassés Ocidental, Zertal observa cerca de 39 sítios no Bronze Tardio, e mais de 200 na Idade de Ferro I, novamente um grande aumento. Esta grande onda de fazendas, aldeias e pequenas aldeias representa um desenvolvimento totalmente novo, como é universalmente admitido [6]
Por fim Amihai Mazar, Professor da Universidade Hebraica, apresenta uma visão mais ampla, considerando toda Palestina, no que tange a localização desses novos assentamentos:
"Intensivos levantamentos arqueológicos de superfície revelaram um padrão de assentamento inteiramente novo na Idade do Ferro I. Centenas de pequenos sítios novos estavam habitados nas áreas montanhosas da Alta e Baixa Galileia, nas colinas de Samaria e Efraim, em Benjamim, no Negueb setentrional e em partes da Transjordânia central e setentrional. Boa parte pode ser relacionada a tribos israelitas, muito embora a atribuição étnica em algumas dessas regiões seja questionável.[7]
A explosão de assentamentos com um novo padrão de ocupação, "israelita", ou "protoisraelita", a partir do final do século XIII AC, marca assim um crescimento populacional impressionante, indicando, como observa Kitchen, um número muito maior de habitantes que o existente no Bronze Tardio II (1400-1200 AC). Citando Filkenstein, a população de Canaã, como um todo, mais que duplicou entre 1150 AC e 1000 AC (início do reinado de Saul), passando de 21.000 para 51.000 pessoas, e quadruplicou ou quintuplicou no intervalo maior de 1250 e 1000 AC [8]. No entanto, considerando apenas as terras altas do centro do país, o aumento de população pode ter sido de 5 vezes nos primeiros 100 anos desse período [8].
Resta porém a questão, de onde veio tanta gente?
Mario Liverani descreve as várias teorias existentes:
"Influenciados - positiva ou negativamente - pela narrativa bíblica, os estudiosos modernos (arqueólogos não menos que biblistas) propuseram teorias unívocas, com forte polêmica reciproca, sobre a explicação da etnogenia de Israel (...) bastará lembrar aqui as principais teorias que se sucederam e se confrontaram. (1) A teoria da conquista "militar" compacta e destrutiva, de direta inspiração bíblica, é ainda afirmada em alguns ambientes tradicionalistas (especialmente norte-americanos e israelitas), mas é agora deixada a margem do debate. (2) Prevalece hoje a ideia de uma ocupação progressiva, nas duas variantes (mais complementares do que exclusivas entre sí) de sedentarização de grupos pastoris já presentes na área e da infiltração do adjacente pré-deserto (3) Enfim, a teoria (chamada "sociológica") da revolta camponesa, que privilegia totalmente o processo por linhas internas sem contribuições externas, depois dos consensos dos anos 1970-1980, é atualmente malvista, por motivos às vezes declaradamente políticos. Ainda hoje as várias propostas são normalmente contrapostas, quando deveriam ser todas utilizadas para compor um quadro multifatorial próprio de um fenômeno histórico complexo. [9].
Como evidenciado acima, os últimos 50 anos marcaram uma perda de força da teoria da conquista, outrora dominante entre os estudiosos, bem como a dificuldade de estabelecimento de um novo consenso. De qualquer forma, deve ser questionado até que ponto a própria narrativa bíblica propõe uma conquista avassaladora, irresistível e inexorável dos israelitas, ou um misto de confronto e convivência entre os israelitas e os vários grupos que habitavam Canaã, ao longo de várias gerações, até o surgimento da monarquia.
O livro de Juízes faz menção a várias batalhas, mas também afirma sem rodeios não só que "os israelitas viviam entre os caananitas", e "tomaram as filhas deles em casamento e deram suas filhas aos filhos deles", bem como "prestaram culto aos deuses deles". Esses elementos indicam a possibilidade de um grupo estrangeiro tenha se fixado na região montanhosa central de Canaã e se associado a população local, e após várias gerações, assumiu uma consciência étnica e nacional. Como observa Avraham Faust, da Universidade Bar Ilan, a posição dominante entre os estudiosos é que pelo menos uma parte dos habitantes desses novos assentamentos eram provenientes das regiões transjordânicas e do deserto e, provavelmente, de uma forma ou outra, do Egito, indicando pelo menos uma núcleo de memória nas narrativas do Exodo [10].
Assim, a concepção de que houve uma confluência entre um fluxo populacional de origem estrangeira e outro autóctone, com conquista e coexistência é uma possibilidade a ser explorada. A vertente de convivência e posterior associação do elemento "proto-israelita" e cananeu, pode ser exemplificada pela cidade estado de Siquém, cuja evolução é descrita por Liverani:
"Diferente é o caso de Siquém, que a tradição apresenta sob o signo da progressiva assimilação - como confirmado arqueologicamente pelo continuísmo que marca a passagem da florescente cidade do século XIV (estrato XIII), à mais modesta do século XIII (estrato XII) - ao assentamento "proto-israelita" do Ferro I (extrato XI). [11]
A vertente de confronto é exemplificada por Hazor, na próxima parte do post
2) Destruição de Hazor
Carta de Amarna, do Rei Abdi-Tirzi, de Hazor para o Faráó Amenotep (ou seu filho, Akenaten) Sec. XIV AC, Museu Britânico, via wikicommons |
Como descrevemos acima, a teoria da conquista não é mais o modelo dominante para explicar a emergência do antigo Israel em Canaã. Várias teorias alternativas foram propostas, mas nenhuma obteve o mesmo grau de dominância que esta teve, ou chegou próximo de estabelecer um consenso. Os motivos são apontados pelo Professor Eric Cline:
Many of the sites mentioned in the biblical account and specifically noted as being destroyed by the invading Israelites have now been excavated by biblical archeologists, with an interesting conundrum resulting. On the one hand, most of the sites described as being destroyed do not show any archeological evidence of destruction - and some, such as Jericho, were not even occupied at the time. On the other hand, there are sites in the region that were definitely destroyed at that time, but none of these sites is mentioned in the biblical account. One of the few places named in the Bible as being destroyed by the Israelites and at which a destruction has been found by archaelogists is the site of Hazor (tradução) Muitos dos locais mencionados no relato bíblico e especificamente indicados como destruídos pelos invasores israelitas foram agora escavados por arqueólogos bíblicos, resultando em um enigma interessante. Por outro lado, a maioria dos locais descritos como destruídos não apresentam nenhuma evidência arqueológica de destruição - e alguns, como Jericó, nem estavam ocupados na época. Por outro lado, existem locais na região que foram definitivamente destruídos naquela época, mas nenhum desses locais é mencionado no relato bíblico. Um dos poucos lugares mencionados na Bíblia como tendo sido destruído pelos israelitas e no qual evidências de destruição foi encontrada por arqueólogos é Hazor. [12].
No livro de Josué, a conquista militar de Canaã se inicia com a travessia do Jordão, a completa destruição de Jericó e Ai, e o estabelecimento de uma aliança com a cidade-estado de Gibeão. Josué, então, inicia uma campanha contra a liga de cidades sulistas, lideradas pelo Rei de Jerusalém. Após a vitória no sul, Josué enfrenta uma coalização das cidades-estado do norte, lideradas por Jabim, Rei de Hazor. A coalização é derrotada, e Hazor completamente destruída. A "terra teve descanso da guerra" (Js 12:23) e houve a divisão entre as tribos.
Juízes, começa com várias tribos conduzindo esforços isolados de ocupação. No capítulo 1, a tribo de Judá, por exemplo, consegue várias vitórias, mas a resultante de seus esforços foi que "(...)ocuparam a serra central, mas não conseguiram expulsar os habitantes dos vales, pois estes possuíam carros de guerra feitos de ferro.("(v. 19). As tribos centrais, Manassés e Efraim, também não teriam conseguido prevalecer contra importantes centros como Dor, Megido, e Gezer, "pois os cananeus estavam decididos a permanecer naquela terra."(v. 27), bem como a tribo de Benjamim não conseguiu tomar Jerusalém dos Jebuseus. No norte, as tribos de Aser, Zebulom e Naftali, viviam "entre os cananeus que habitavam naquela terra.(v. 32)". A relação conflituosa, mas também cooperativa entre os israelitas e os demais habitantes de Canaã é indicada pelo fato de que "os israelitas viviam entre os cananeus, os hititas, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Tomaram as filhas deles em casamento e deram suas filhas aos filhos deles, e prestaram culto aos deuses deles"(Jz 3:5). O livro descreve a resistência organizada por vários juízes contra incursões de midianitas, amonitas, arameus, amalequitas, filisteus, bem como a grande vitória de Débora e Baraque contra uma nova coalização nortista liderada por Hazor.
Hazor era uma das mais importantes e poderosas cidade-estado na palestina, pedra angular do sistema de suserania egípcio na região, e principal praça do norte de Canaã [13][14][15].
Israel Finkelstein comenta a destruição de Hazor, que parece ter precedido a queda de outras cidades cananeias em algumas décadas, e suas implicações:
Hazor, provavelmente a cidade-Estado mais importante do Norte, foi destruída num violento incêndio, provavelmente na segunda metade do século XIII a.C (Yadin, 1972; Kitchen, 2002; Ben-Tor, 2008). Outras cidades-Estado, incluindo aquelas situadas no vale de Jezrael, assim como um centro egípcio em Betsã, continuaram ininterruptamente por quase um século. O sistema de cidades-Estados canaanitas sob dominação egípcia nos vales do Norte chegou ao fim numa série de destruições no final do século XII a.C. [13].
Esses efeitos da destruição de Hazor, e os prováveis culpados, são discutidos por Amihai Mazar:
Hasor é descrita no livro de Josué como a maior das cidades cananéias "Hasor era outrora a capital de todos esses reinos" (Josué 11,10). Depois da batalha junto às águas do Meron, Hasor foi nivelada: "Todavia, todas as cidades que estavam erigidas sobre suas colinas de ruínas, Israel não as incendiou, salvo Hasor, que Josué incendiou" (Josué 11,13). Vimos que Hasor foi de fato a maior cidade cananéia durante toda a duração das idades do Bronze Médio e Recente. A última cidade cananéia lá (Estrato XIII), que era bastante pobre em comparação com as suas predecessoras, foi destruída em algum momento durante o século treze a.C, provavelmente cerca de meio século antes da aniquilação de Laquis. Os escavadores assumiram que o fim de Hasor cananéia deve ser atribuido aos israelitas. [14]
Uma descrição dessa Hazor do estrato XIII, que corresponderia ao período entre 1400 a 1200 AC foi apresentada por Kenneth Kitchen
In the second millenium Hazor consisted of an upper citadel (on a high mound) which dominated a large "lower city" on its north side - a vast site, certanly then "head of all [Canaan's] kingdoms". Both areas were destroyed along with a massive conflagration in the thirteenth century, probably towards its end (citadel, stratum XIII; lower city, stratum Ia). Insofar as the results of Yadin's work are confirmed by the new excavations under Ben-Tor, then it will seem very probable (as it did to Yadin, long ago) that the massive destruction of greater Hazor was that wrought by Joshua. (tradução) No segundo milênio, Hazor consistia em uma cidadela superior (em um monte alto) que dominava uma grande "cidade baixa" em seu lado norte - um vasto local, certamente então "cabeça de todos os reinos [de Canaã]". Ambas as áreas foram destruídas juntamente com uma grande conflagração no século XIII, provavelmente no final (cidadela, estrato XIII; cidade baixa, estrato Ia). Na medida em que os resultados do trabalho de Yadin são confirmados pelas novas escavações sob Ben-Tor, então parece muito provável (como para Yadin, há muito tempo) que a destruição massiva da grande Hazor foi feita por Josué [15].
A existência de uma memória histórica do confronto entre os (proto) israelitas e a entidade política de Hazor é reforçada pela menção em Josué e Juízes do Rei (Yabin), em confronto com Josué e seu filho de mesmo nome contra Débora e Baraque. (O Jabin de Josué é identificado como Rei de Hazor. O Jabin de Débora e Baraque, como Rei de Canaã). Nos arquivos da cidade de Mari, na Mesopotâmia, há referencias do século XVIII AC ao comércio entre Hazor e Mari. Há uma menção a um certo Rei Ibni, que é o exato correspondente ao hebraico Yabin (Jabin), nome do Rei de Hazor em Josué e depois em Juízes. Professor William Dever, da Universidade do Arizona, escreve:
It would appear that the authors of this passage in the Hebrew Bible, however late, had some knowledge of an Ibni (that is, a Yabin) dinasty in Hazor, stretching all the way back to the middle Bronze Age centuries earlier. To me, this suggest strongly that the writers of the book of Joshua did not entirely "invent" the story of the fall of Hazor. They had reliable historical sources, oral and/or written. They also knew correctly that Hazor had indeed been the "head of all these kingdoms" or city-states in the north, as the current excavations have made abundantly clear (tradução) Parece que os autores desta passagem na Bíblia Hebraica, embora tardia, tinham algum conhecimento de uma dinastia Ibni (isto é, um Yabin) em Hazor, remontando à Idade do Bronze, séculos antes. Para mim, isso sugere fortemente que os escritores do livro de Josué não "inventaram" inteiramente a história da queda de Hazor. Eles tinham fontes históricas confiáveis, orais e / ou escritas. Eles também sabiam corretamente que Hazor tinha de fato sido "chefe de todos esses reinos" ou cidades-estado no norte, como as escavações atuais deixaram bem claro [16]
Liverani, por sua vez, também aponta os israelitas (ou proto israelitas) como os responsáveis pela destruição, mas associa ao período de Debora e Baraque (Juizes 4), alguma décadas depois. Aponta o cântico de Debora, considerado entre os estudiosos como uma das partes mais antigas da Bíblia (provavelmente anterior em vários séculos a redação final de Juízes), para indicar a coalização de seis tribos, nortistas e centrais, contra a coalização cananeia.
"O conflito historicamente mais plausível é, porém, o segundo, a batalha em Taa'nak, perto de Megido, que vê as milícias tribais da Galiléia (Zabulon, Issacar e Neftali) e centrais (Makir/Manassés, Efraim, e Benjamim) guiadas por Baraq e cercadas por Débora descerem de suas montanhas para enfrentar os temidíssimos carros de guerra das cidades cananéias, sob a hegemonia de Yabin, Rei de Hasor, e guiadas pelo general Sisera. O "cantico de Débora", por todos considerado um dos textos mais antigos da Bíblica, constituiu o núcleo sobre o qual depois de construiu o texto narrativo que o engloba. [17]
Em suma, a evidência até aqui indica que por volta de 1200 AC, havia o conhecimento em fontes egípcias de um grupo étnico (não ainda organizado em cidades estado ou reinos) que habitava Canaã, provavelmente em sua região montanhosa. A evidência arqueológica indica "explosão" de assentamentos "israelitas" nesse período, e que esse grupo provavelmente esteve associado a destruição da grande cidade de Hazor, pedra angular do sistema das cidades estado do norte, e possivelmente toda Canaã (tendo sido, provavelmente, um dos motivos pelo qual a dominação egípcia se enfraqueceu no longo prazo, e ter levado Merneptah em tentar restabelece-la), e que o quadro geral apresentado por Juízes, do antigo Israel coexistindo e interagindo com os vários povos que habitavam a Palestina, reflete provavelmente uma memória histórica.
A emergência (e decadência) de Siló.
Eli e Samuel no Tabernaculo, 1780 por John Singleton Copley, via wikicommons |
"A evidência arqueológica de práticas religiosas israelitas durante o período de Juízes é escassa. Em Siló, a parte central do sítio, onde provavelmente ficava o santuário foi totalmente destruída pela erosão e pelas atividades bizantinas de construção. A evidência de que existia um lugar de culto neste sítio já na idade do Bronze Recente é de considerável importância. Ele provavelmente servia a tribos de pastores seminômades que viviam nas vizinhanças, pois não foi encontrado no cômoro nenhum assentamento real desse período. Siló, portanto, parece ter sido um local sagrado desde muito antes da Idade do Ferro, e talvez essa tradição tenha levado a sua escolha como centro religioso dos israelitas durante o período dos Juízes [18]
Israel Finkestein:
Os livros de Josué, Juízes e I Samuel descrevem Silo como um santuário central dos primeiros israelitas - a localidade da Arca da Aliança. Jeremias (7:12,14; 26, 6.9) refere-se ao antigo templo de Yahweh que tinha estado em Siló e que foi destruído pela iniquidade de Israel. E embora Silo não fosse um importante local no final do Ferro II, quando a maioria desses textos foi colocada por escrito, sua localização - entre Jerusalém e Siquém - era bem conhecida pelo Historiador Deuteronomista (Juízes 21:19). A arqueologia demonstrou que Silo foi abandonada após sua destruição no Ferro I. Resultados de radiocarbono alocam essa destruição na segunda metade do século XI a.C (Finkelstein e Piasetzky, 2006). Não há assentamentos significantes ali nos períodos do Ferro II e persa. Vestígios datados desses períodos são escassos e de nenhuma importância especial; eles não revelam sinais de um lugar de culto ou de destruição por fogo. É impossível, assim, ler a tradição do santuário de Silo contra o panorama do Ferro II ou posterior. [19].
E Kenneth Kitchen:
The Iron I phase at the site was violently destroyed about 1050 or so, in line with the veiled allusions in Jer. 7:12-14 and Ps 78:60-61. There is no reason to view Shiloh in Iron I as anything other than an early Israelite center, amidst an area of considerable early Israelite settlement. (tradução) A fase Ferro I do sítio foi violentamente destruída por volta de 1050 ou mais, em acordo com as alusões veladas em Jer. 7: 12-14 e Sl 78: 60-61. Não há razão para ver Shiloh em Iron I como outra coisa senão um centro israelita primitivo, em meio a uma área de considerável colonização israelita inicial [20]
Se o santuário de Siló foi praticamente abandonado em meados do século XI AC, e o deuteronomista foi escrito no século VII AC, o fato de existir uma memória de que aquele local era um importante santuário séculos antes é relevante e indica pelo menos uma possibilidade de que outras memórias semelhantes tenham sido preservadas.
Nos anos de 1930, o estudioso alemão Martin Noth postulou que as tribos de Israel se organizavam numa anfictionia, ou seja, uma liga ou confederação cujas instituições funcionavam em torno de um santuário central, a semelhança das cidades estado gregas (em torno de Delfos), que se organizaram para manter o santuário de Apolo e que com o tempo incorporou também funções políticas.
A tese de Noth foi criticada por considerar um contexto distante milhares de quilômetros e atestada pelo menos meio milênio depois do tempo de juízes. No entanto, a existência de uma organização tribal, e alguma solidariedade entre seus membros tem paralelos em contextos mais próximos aos da antiga Canaã, como observa Kitchen:
However, as lomg sice proposed, there were analagous institutions much near home, in the Near East. Hallo gave a detailed account of a Neo-Sumerian "amphictyony" of twelve or more cities that contributed supplies of a twelve monthly basis to the upkeep of the holy Sumerian city of Nippur, under the rules of the third dinasty of Ur circa 2000. As with Greece, the central central temples were the focus of attention (...) Alongside these concrete cases the Hebrew tribal federation can stand, with its shrine. The better comparison is with tribal federations, as at Mari and early Arabia (...)" (tradução) No entanto, como há muito proposto, havia instituições análogas muito perto de casa, no Oriente Próximo. Hallo fez um relato detalhado de uma "anfictonia" neo-suméria de doze ou mais cidades que contribuíam com suprimentos de doze meses para a manutenção da sagrada cidade suméria de Nippur, sob as regras da terceira dinastia de Ur por volta de 2000. Como com a Grécia, os templos centrais centrais eram o foco das atenções (...) Ao lado desses casos concretos pode se manter a federação tribal hebraica, com seu santuário. A melhor comparação é com as federações tribais, como em Mari e no início da Arábia [21]
Assim, além de um santuário comum, as tribos empreendem ações militares conjuntas, um dos principais exemplos contido no cântico de Débora, como observa Liverani:
"É um texto importante para nos fazer entrever uma agregação tribal que teoricamente compreende dez tribos, seis das quais participam do empreendimento; as outras quatro julgam não faze-la (e são, por isso, ridicularizadas): Asher e Dan, porque empenhadas em trabalhar nas esquadrilhas fenícias, Rubem e Gile'ad, porque empenhadas em seus pastos estivais na Transjordânia. Observe-se que a coalização é definida como Israel (e na verdade coincide com o Reino do Norte) ou "o povo de Yahweh", mas se usa o também o coletivo "aldeões" (perazot) contraposto as cidades de muros e portas e portas dos cananeus (...)" [22].
Liverani também pontua que as fronteiras dessas tribos, pelo menos das maiores, corresponde aos padrões de assentamento das vilas "protoisraelitas" do século XIII/XII AC
"Não por acaso a situação das tribos principais corresponde muito bem a distribuição das vilas "proto-israelitas" e fornece uma confirmação cruzada avaliada como positiva. Mas diversas outras tribos que depois passaram a fazer parte da lista "canônica" são ou nitidamente funcionais (mas que de estirpe), como Levi (mas também Issacar, ou também os qenitas), ou de origem e pertença duvidosas (como Dan) ou desaparecidas tão cedo (Simeão) que somos levados a duvidar se algum dia existiram [23].
Assim, Silo parece ter representado um papel fundamental no período anterior a monarquia, por servir de centro de agregação das várias tribos de Israel, permitindo algumas ações conjuntas, além da cooperação religiosa. No entanto, o livro de Juízes indica frequentemente dificuldades de mobilização conjunta entre as várias tribos. Assim, Débora consegue mobilizar seis tribos, tendo convidado 10; Gideão apenas Manassés, Aser, Zebulom e Naftali (Jz 6:35); e Jefté fica restrito as tribos de além do Jordão, tanto Gideão como Jefté recebem reclamações de Efraim, que alega que não foi adequadamente convocada para guerra.
Desta forma, temos um Israel, ou "proto israel", que surge de forma súbita no registro histórico e arqueológico, em pequenas vilas e assentamentos nas regiões montanhosas centrais da Palestina, no final do século XIII AC. Esse grupo tem elementos autóctones, convivendo com outras populações que habitavam a região, mas também se envolve em conflitos contra forças regionais, como a cidade de Hazor e seus aliados. Suas tribos tinham algum grau de coesão, organizando ações militares conjuntas, bem como mantendo um santuário em Siló.
Referencias Bibliográficas:
[1] Michael Coogan (2008) The Old Testament, a Very Short Introduction, fl.31
[2] Eric H Cline (2009) Biblical Archaelogy, A Very Short Introduction, fl. 72
[3] Mario Liverani (2003), Para Além da Bíblia, História Antiga de Israel, fl. 52
[4] Mario Liverani (2003), Para Além da Bíblia, História Antiga de Israel, fls 37 e 38
[5] Israel Finkesltein (2013), O Reino Esquecido - Arqueologia e História de Israel do Norte, fl. 39
[6] Kenneth Kitchen (2003) On the Reliability of the Old Testament, fl. 225
[7] Amihai Mazar (1990) Arqueologia das Terras da Bíblia, fl. 328
[8] Kenneth Kitchen (2003) On the Reliability of the Old Testament, fl. 226
[9] Mario Liverani (2003), Para Além da Bíblia, História Antiga de Israel, fl. 59-60
[10] Avraham Faust (2015), The Emergence of Iron Age Israel, an Origin and Habits, fl. 476
[11] Mario Liverani (2003), Para Além da Bíblia, História Antiga de Israel, fl. 120
[12] Eric H Cline (2009) Biblical Archaelogy, A Very Short Introduction, fls. 77-78
[13] Israel Finkesltein (2013), O Reino Esquecido - Arqueologia e História de Israel do Norte, fl. 38
[14] Amihai Mazar (1990) Arqueologia das Terras da Bíblia, fl. 326
[15] Kenneth Kitchen (2003) On the Reliability of the Old Testament, fl. 184
[16] William Dever (2006) Who were the early Israelites, and where did they come from?, fl. 68
[17] Mario Liverani (2003), Para Além da Bíblia, História Antiga de Israel, fl. 122
[18] Amihai Mazar (1990) Arqueologia das Terras da Bíblia, fl. 341
[19] Israel Finkesltein (2013), O Reino Esquecido - Arqueologia e História de Israel do Norte, fls. 70-71
[20] Kenneth Kitchen (2003) On the Reliability of the Old Testament, fl. 231
[21] Kenneth Kitchen (2003) On the Reliability of the Old Testament, fl. 222
[22] Mario Liverani (2003), Para Além da Bíblia, História Antiga de Israel, fl. 122
[23] Mario Liverani (2003), Para Além da Bíblia, História Antiga de Israel, fl. 93
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