A Chamada de São Mateus, Amerighi Caravaggio, 1599-1600, Igreja São Luigi de Francesi, Roma, via wikipedia commons |
Ceia de Emaus, Caravaggio, National Gallery London, 1601 via Wikipedia Commons |
"I have chosen a few generally non-controversial features of the ministry of Jesus for these one is necessarily reliant upon the evidence of the synoptic gospels (composed in their present form near or generally after the destruction of the Temple, the chronological terminus of this study). But for the most part I have prefered to follow as far as possible the contemporary witness of Paul and his associates (supplemented, unavoidably, by the addiyional testimony of Acts). (Tradução) "Eu escolhi alguns poucos elementos geralmente não controversos do ministério de Jesus, nos quais somos necessariamente dependentes da evidência dos evangelhos sinóticos (compostas em sua forma atual, na época ou pouco depois da destruição do Templo, o limite cronológico deste estudo). Mas para a maior parte eu preferi seguir, tanto quanto possível, o testemunho contemporâneo de Paulo e seus companheiros (complementado, inevitavelmente, pelo testemunho addiyional de Atos).[1]
Assim, como fonte principal para o ministério de Jesus, o Professor Clarke utiliza os evangelhos sinóticos, enquanto para a Igreja no periodo apostólico, a base são as cartas de Paulo, complementadas pelos Atos dos Apostolos. Ele emprega especial atenção aos elementos considerados consensuais entre os estudiosos.
That way I hope to eschew as much as I can the anachronic perceptions of the early Christian past (embedded in the canon as it become later formed) as Christianity developed its own self-awareness and its own sense of separate identity and sought legitimation for those developments in its preferred accounts of its past (tradução) Dessa forma, espero evitar, tanto quanto eu puder as percepções anacrônicas do passado cristã primitiva (incorporado no cânon, tal qual ele se formou depois) como o cristianismo desenvolveu a sua própria auto-consciência e seu próprio senso de identidade separada e buscou legitimação para aqueles desenvolvimentos em suas contas preferenciais do seu passado [1].
"Into such religious context with its ferment of debate and diversity fit the movements of John Baptist (urging a renewal of Israel in the wilderness and a new passage through the "sea" of the Jordan) and of Jesus of Nazareth round about AD 30 (christian sources being at pains somewhat apologetically , to subordinate the former to the latter). Jesus central activities of teaching in the synagogues, attending the Temple servicess, keeping the festivals - and disputing with other teachers (especially represented, at least in latter tradition, as sharpenin his views against those Pharisees) - these place him in the mainstream of contemporary religious occupations. (Tradução) Em tal contexto religioso com o seu fermento de debate e diversidade ajustar os movimentos de João Batista (pedindo uma renovação de Israel no deserto e uma nova passagem pelo "aguas" do Jordão) e de Jesus de Nazaré em cerca de 30 DC (fontes cristãs lutam, de forma um tanto apologeticamente, subordinar o primeiro ao segunda). As atividades centrais de Jesus, como ensinar nas sinagogas, frequentar os serviços do Templo, observar os festivais - e disputando com outros professores (destacando principalmente, pelo menos na tradição posterior, suas disputas contra os fariseus) - o colocam no mainstream das questões religiosas de seus contemporâneos [4].
A dissonância se reflete assim não só em termos de contexto mas também em termos de perfis. Como nos ensina o Professor David Flusser "Uma leitura imparcial dos evangelhos sinóticos resulta num quadro que é mais característico de um fazedor de milagres e pregador judeu do que de redentor da humanidade"[7]. O que é repetido com outras palavras pelo Professor Geza Vermes "os traços mais notáveis do retrato de Jesus nos Sinópticos, o de um curandeiro e exorcista carismático, mestre e campeão do Reino de Deus, são essencialmente dependentes da figura histórica que outros escritores do Novo Testamento progressivamente mascararam"[8]. Desta forma, como já discutimos aqui no blog, os estudos destes pesquisadores apontam que "(...) o contorno, da figura de Jesus nos sinóticos é de um realizador de milagres e pregador, que esta em dissonância, em discontinuidade, com o Cristo das epístolas e da pregação cristã posterior (...), istoé, os evangelhos sinóticos apresentam um contorno geral de Jesus poderoso em palavras e atos, nas pequenas vilas e aldeias da Galíleia, em dissonância com a pregação do Cristo querigmático (...)[9]. Tal fato é ainda mais significativo porque esse perfil é conservado até mesmo por círculos cristãos no qual a relevância e a encarnação era questionada, e para os quais Jesus apenas parecia ser humano. No inicio do seculo II DC, o herege Basilides pregava que Jesus "apareceu na Terra em forma humana" (Irineu de Lyon, Contra as Heresias, Livro I, capítulo 24, seção 4) - implicando que a humanidade de Cristo era apenas aparente, talvez como os dissidentes de I João que admitiam que Jesus tinha vindo, mas não em carne -, no entanto, o Cristo de Basilides "realizou milagres" e foi até condenado a crucificação, mas no último minuto "Simão, um homem de Cirene, sendo chamado, levou a cruz em seu lugar; e foi transfigurado para parecer com ele, para que acreditassem que ele era Jesus, e o crucificassem, por ignorância e erro, enquanto Jesus recebeu a forma de Simão, e estando de longe, ria deles" (Contra as Heresias 1:24:4). Outro arquiherege, Apelles, também mantinha que Jesus havia "aparecido" no tempo de Pôncio Pilatos, e que viveu entre nós foi crucificado, e ressuscitou ao 3° dia, aceitando o grosso da narrativa evangélica [Hipolito de Roma, Refutação de Todas as Heresias, Livro VII, capítulo 26]. Assim, como também concluimos em posts anteriores, "proto-ortodoxos, ebionitas, marcionitas, gnosticos docéticos e separacionistas conservam o esqueleto básico dessa narrativa, quase como um ancestral comum, mesmo que não o enfatizem"[9]. A questão não era sobre os feitos de Jesus, sua pregação e milagres, de que tinha sido enviado por Deus. O ponto era a natureza da sua manifestação. O grosso da tradição evangélica, assim, não opôs doceticos, separacionistas, ebionitas e proto-ortodoxos.
Salomé com a Cabeça de João Batista, Caravaggio, 1609-1610, National Gallery London, via Wikipedia Commons |
"An his central concerns fit comfortably into the continuing debate within the Judaism of the day, often characterized as they are with reformist tendencies: concern for Temple purity and cleasing (Mark 11:15ff, Matt 21:12f, Luke 19:45ff, John 2:14ff), concerns for intentional purity of the person (casting out the demons /curing the sick), concerns for love the neighbour (extend even to loving one's enemies, Matt 5:43 ff), concerns for regulating the sexual code of behaviour (with a restrictive view on divorce, Matt. 5:31f, 19:31ff), concerns for giving primacy to moral (as opossed to ceremonial) law (Mark 3:1 ff (healing on the Sabbath). The carpenter from Nazareth in Lower Galilee, with his chosen inner circle of fishermen (that is to say, draw roughly from the small tradesman class) could certanly bluntly reject Mammon and outsponkenly condemn the snares of riches (e.g Matt 6:24=Luke 16:13), but this not prevent him from fraternizing with wealthy tax-gatherers, wordly sinners, women of ill-repute and Gentile (and other social outcasts). (Tradução) Suas preocupações centrais se ajustam confortavelmente no debate contínuo dentro do Judaísmo de seu tempo, muitas vezes caracterizado por tendências reformistas: preocupação com a pureza e purificação do Templo (Marcos 11:15 ff , Mateus 21:12 f , Lucas 19:45 ff , João 2:14 ss) , preocupações com a pureza intencional da pessoa ( expulsar demônios / curar doentes ), preocupações para amar o próximo ( englobando até o os inimigos, Mateus 5:43 ss) , preocupação em regular o código sexual de comportamento (com uma visão restritiva sobre o divórcio , Mateus. 05:31 f, 19:31 ss) , a ensinamento de dar primazia à lei moral (em relação a lei cerimonial) (Marcos 3:1 ff ( de cura no sábado ) . o carpinteiro de Nazaré na Baixa Galiléia, com seu círculo escolhido de pescadores (ou seja, a partir dos pequenos comerciantes) poderia certamente e sem rodeios rejeitar Mamon e condenar violentamente as armadilhas da riqueza (por exemplo, Mateus 6:24 = Lucas 16:13 ) , mas isso não o impediu de confraternizar com ricos coletores de impostos , pecadores mundanos, mulheres de má reputação e os gentios (e outros párias sociais ).[10]
For what he fervently preached was the urgent need for repentance before the impending eschaton and the people whom he spoke his message were not just the Torah observants: sinners, the unrighteous, had even greater need of his call. There is an increasingly catholic sense of definition of the children of Abraham , the true Israel who might enter upon the kingdom, and a continuos debate with contemorary judaisms about the sufficient and necessary conditions for entering upon that kingdom (now envisaged as so nigh). But what Jesus demanded of his chosen disciples was a renunciation of family and wordly goods, a single minded dedication and a proselytizing zeal to spread the word (e.g Mark 10:28 ff) which ensured that his movement did not remain confined just to sympathetic families and pious followers within Lower Galilee and Jerusalem even after his ignominious death (AD 30); their conviction of his ressurection became the decisive cionfirmation of his messianship. The movement from these local Palestinian origins began to spread. (Tradução) Pois o que ele pregava fervorosamente era a necessidade urgente de arrependimento diante do eschaton iminente e as pessoas com quem ele compartilhou sua mensagem não eram apenas os observavam a Torá : pecadores, injustos, tinha necessidade ainda maior de seu chamado. Há um sentido cada vez mais universal na definição dos filhos de Abraão , o verdadeiro Israel, que poderiam entrar em reino, e um debate contínuo com judaísmos contemporâneas sobre as condições suficientes e necessárias para a entrada nesse reino ( agora percebido como já presente). Mas o que Jesus exigiu de seus discípulos escolhidos foi uma renúncia à família e bens mundanos, um único espírito e dedicação, e zelo proselitista para espalhar a palavra (por exemplo, Marcos 10:28 ss) que garantiu que o seu movimento não ficou restrito apenas às famílias simpáticas e seguidores devotos dentro Baixa Galiléia e de Jerusalém , mesmo depois de sua morte ignominiosa (30 DC) , a sua convicção de sua ressurreição tornou-se o confirmação decisivo de sua messianidade. O movimento a partir destas origens palestinas locais começarou a se espalhar [12]
A chegada iminente do Reino de Deus, e como as pessoas deveriam se preparar para o Eschaton, segundo o Professor Clarke, era a linha mestra da pregação de Jesus. E se o Reino estava próximo, e a ordem atual com dias contados, fazia sentido ao discípulo deixar tudo para se preparar para o fim, inclusive família e propriedades. Antropólogos e sociologos, há muito tempo observam que esse padrão de comportamento é típico tanto de profetas apocalipticos como de seguidores de profetas apocalípticos ao longo da história [13]. Professor David Aune, da Universidade de Notre Dame, cita a definição utilizada no clássico estudo de Joseph Zigmont, da Universidade de Connecticut, "When Prophecy Fail", "Ainda que muito diferentes em suas ideologias e estruturas particulares, grupo milenaristas compartilham de uma característica psicológica comum: uma esperança coletiva de que uma transformação radical da ordem existente ocorrerá no futuro imediato através de uma intervenção sobrenatural". Tais movimentos se formam em torno de profecias escatológicas especifícas, de transformação iminente, muitas vezes com data e hora marcada, quando as profecias não se concretizam, o grupo, ou parte dele, ao invés de se dissolver, racionaliza sua frustação e reestrutura suas crenças [14] Como observa Aune, o trabalho de Johannes Weiss e Albert Schweitzer, no início do século XX, demonstrou que toda carreira de Jesus foi moldada por expectativas escatológicas de intervenção iminente do Senhor na história, e tais conclusões são amplamente aceitas pelos estudiosos desde então (com excessão de um grupo minoritário, mas relevante, de estudiosos norte americanos ligados ao Jesus Seminar). Aune observa que a reação dos cristãos aos eventos imediatos a morte de Jesus são compatíveis com um processo de dissonância cognitiva - em que seus seguidores, confrontados com os eventos traumáticos da horrorosa e vergonhosa morte por crucificação de seu líder e o não estabelecimento imediato do Reino de Deus, reestruturam suas crenças a partir de uma releitura do Antigo Testamento e das aparições do Cristo Ressureto [15]. Ou seja, que o Jesus Histórico era um profeta carismático e apocaliptico, que pregava a vinda imediata do Reino de Deus, poderoso em palavras e atos, é confirmado não só pelo fato de que tal perfil é extremamente compatível com a Galiléia rural dos anos 30 DC - e nem tanto com as necessidades, experiência e preocupações teológicas da segunda e terceira geração de cristãs vivendo em metrópoles como Roma, Corinto, Efeso e Antioquia - mas também pelo fato de que o movimento cristão nascente seguiu um padrão de desenvolvimento compatível com os de outros grupos apocalipticos seguidores de profetas carismáticos [16].
Referências Bibliograficas
[6] Geoffrey Ernest Maurice de Ste Croix (1983), The Class Struggle in the Ancient Greek World: From the Arcaic Period to the Arab Conquest, fl. 427.
[7] David Flusser (1998), Jesus, Editora Perspectiva, fl. 2