A professora Rosana Marins produziu um excelente trabalho para a Revista do Instituto Cultural Judaico, sob o título "O fracasso do evergetismo romano na Judeia", que está disponível neste link. Recomendamos como importantíssimo para entendermos como fervilhava o clima sociopolítico e instigava imaginários, narrativas sociais simbólicas e movimentos políticos de resistência no Judaísmo sob o domínio romano.
Buscarei contribuir para contextualizar e imergir os leitores no plano geral de questões conceituais e sociológicas do tema específico tratado. O que se conhece como evergetismo despontara muito antes na Grécia, dentre o século VI a IV a.C.
A população ateniense dobrara e ultrapassara a marca de 200 mil habitantes, necessitando de altas importações para seu abastecimento, como por exemplo metade de seu trigo (Peter Garnsey) – chegando-se a proibir exportação e obrigando mercadores a entregarem dois terços de seus carregamentos de trigo a Atenas, sob pena de morte. Contudo, diante da enorme pressão para uma revolta popular – diante do regime alimentar exíguo, epidemias e doenças endêmicas como paludismo e tuberculose - um jogo tácito foi adotado pelas elites do país: ao mesmo tempo que se o governo expropriava os excedentes produzidos pela população majoritariamente camponesa, os ricos proviam víveres e serviços para os pobres e obtinham legitimidade e eram honrados, evitando assim que se revoltassem contra eles e fazendo com que toda a desconfiança voltasse-se contra o Estado – que era controlado por eles, sendo assim, a desconfiança era apenas no sentido de se cobrar do Estado que se efetuasse esta provisão em cima de impostos sobre os ricos.
É um panorama recorrente na história e que este artigo explora brilhantemente sobre seu formato estratégico para o poder de Roma na Judeia, os efeitos no contexto histórico judaico, seu imaginário e identidades de resistência, abrangendo o período na esteira do nascimento cristão e seu desenvolvimento no judaísmo dos séculos I a.C. e I d.C., com grande repercussão e impacto neste cristianismo. Chama a atenção especialmente por tratar de analisar a implementação sobre uma população dominada, e não sob súditos ou cidadãos do próprio "Estado".
Interessante é que algo assim está no certe de proposições de um dos maiores e mais brilhantes filósofos sociais e da cultura (isto, temos de reconhecer o mérito, nem que seja para nos instigar e nos tirar da auto-indolência, daqueles que não necessariamente acompanhamos a linha geral de pensamento e pontos específicos) na Europa na atualidade, Peter Sloterdijk. Delineando os contornos em “Tempo e Ira” e explicitando melhor em “Se a Europa Despertar”, o pensador postula que o aprendizado que se deve tirar dos tempos do “Welfare State “ europeu em séria crise seria de que o mesmo teria acomodado o espírito de superação do europeu, levado o continente a uma falta de ímpeto e pulsão em querer ultrapassar a si mesmo (coerente com a leitura combinada que o filósofo faz de Nietzsche e Heidegger com seu “Dasein” e oposição à “vida na banalidade inautêntica”), e que a chance de se reerguer seria apostar no senso de orgulho e honra, que não se manifestaria apenas no desejo de subjugar e imperar, mas em querer crescer e chegar a um ponto em que os excedentes seriam liberalmente usados para o progresso das pessoas.
Confiar a coesão e motivação social na liberalidade dos ricos, que mesclariam sua vontade de ferro para enriquecer com um desprendimento em disseminar os frutos de sua riqueza, empregando para viabilizar isto, a construção de uma atmosfera cultural que valorize e honre esta benevolência ao invés de uma obrigação imposta pelo Estado. Um neo-evergetismo.
quinta-feira, 20 de março de 2014
Recomendação de leitura: O fracasso do evergetismo romano na Judeia
Posted on quinta-feira, março 20, 2014 by informadordeopiniao | 1 comment
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1 comentários:
É um blog encantador encontrei o seu blog enquanto navegava pela net, não li muito, mas gostei do que vi e li,espero voltar mais algumas vezes,deu para ver a sua dedicação e claro sempre aprendemos ao ler blogs como o seu.
Se me der a honra de visitar e ler algumas coisas no Peregrino e servo ficarei radiante, e se desejar deixe um comentário.
Abraço fraterno.António.
Peregrino E Servo.
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