sábado, 13 de dezembro de 2008

A descida de Jesus ao Inferno - Parte I


1Pedro 3:19-20 - "Morto na carne, foi vivificado no espírito, no qual foi também pregar aos espíritos em prisão, a saber, aos que foram incrédulos outrora, nos dias de Noé, quando Deus, em sua longanimidade, contemporizava com eles, enquanto Noé construía a arca, na qual poucas pessoas, isto é, oito, foram salvas por meio da água."

1Pedro 4:6 - "Eis por que o evangelho foi pregado também aos mortos, a fim de que sejam julgados como os homens na carne, mas vivam no espírito, segundo Deus."

2Pedro 2:4 - "Com efeito, se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas lançou-os nos abismos tenebrosos do Tártaro, onde estão guardados à espera do Julgamento,[...]"

Judas 1:6 - "E, quanto aos anjos que não conservaram o seu principado, mas abandonaram a sua morada, guardou-os presos em cadeias eternas, sob as trevas, para o julgamento do grande Dia."



A temática da descida aos infernos é recorrente na literatura antiga. Encontramos passagens de conteúdo semelhante em diversas regiões e culturas religiosas. Desde a Grécia até o judaísmo, passando até pelo budismo, encontramos textos referentes à descida de um herói ou ser iluminado às profundezas no sentido de resgatar pessoas de lá.

No caso do cristianismo, pretendemos traçar um pouco das fontes que cercam a tradição da ida de Jesus ao inferno. A problemática nos mostra duas trilhas de abordagem. A primeira dela se encontra no Livro de Henoc. Neste texto, encontramos a detalhada estória de como os anjos foram trancafiados. É lá que encontraremos também a fonte que originou a concepção teológica mostrada em 2Pedro 2:4 e também em Judas 1:6.

Mateus 27:52-53 nos informa que no momento em que o véu do santuário se rasgou, abriram-se os túmulos e os corpos de alguns santos ressuscitaram. Mais à frente em 1Pedro 4,6 nos é dito que o evangelho foi pregado aos vivos e aos mortos, para que estes “condenados como homens a morrer corporalmente, vivessem espiritualmente como Deus”[Trad. Bíblia do Peregrino]. A profecia de Isaías 61:1 nos mostra o ungido anunciando a boa nova proclamando a liberdade aos cativos e à libertação aos que estão presos. Porém, tal passagem pode tão somente se referir aos presos em cadeias em vida. Por outro lado, tal passagem pode ser interpretada para as tais almas encarceradas mostradas em 1Pedro 3:19.

No imaginário medieval, temos que o chamado apócrifo Evangelho de Nicodemos foi de especial importância para o detalhamento da descida de Jesus aos infernos. No episódio narrado neste Evangelho, Jesus retira de lá os justos não-batizados, que antecederam a sua vinda à Terra, deixando por lá, no entanto, para até o final dos tempos os não-justos, tendo trancado o inferno com sete selos. Confiram comigo a passagem da libertação dos patriarcas no capítulo VIII:

"And the Lord stretching forth his hand, said: Come unto me, all ye my saints which bear mine image and my likeness. Ye that by the tree and the devil and death were condemned, behold now the devil and death condemned by the tree. And forthwith all the saints were gathered in one under the hand of the Lord."


O texto do apócrifo de Nicodemos contribui para o detalhamento e a vulgarização explicativa na Idade Média acerca da descida de Jesus aos infernos, fornecendo explicação suplementar ao que aconteceu ao futuro daqueles que ainda não tinham ainda escutado Jesus, mas que eram justos, como foi visto em 1Pedro, 4,6.

O importante é ressaltar que a passagem em Pedro nos mostra corretamente como se desenvolvia o imaginário judaico acerca do sheol. Neste lugar, subterrâneo, os seres apesar de mortos continuam tendo consciência, vagam por regiões lúgubres e são passíveis de pregação e entendimento. Neste sentido, uma passagem curiosa é a de Ezequiel 32, 31 que nos mostra o Faraó do Egito, tendo sido enviado ao sheol, vendo uma multidão de envergonhados trespassados pela espada, consolando-os.

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