sábado, 1 de junho de 2013

Da Morte de Geza Vermes (1924-2013)

Geza Vermes em palestra no Wolfson College/Oxford (Fev. de  2012).
No dia 8 de maio, estava voltando de uma viagem a trabalho quando soube da notícia do falecimento do Professor Geza Vermes. A notícia me entristeceu profundamente, e pensei em escrever um post sobre o assunto. Não consegui. Multiplos afazeres me impediram.

No meio tempo, em vários cantos da biblioblogosfera homenagens e obituários foram escritos. Podemos citar o Professor Airton José da Silva aqui,  Professor James D'Avila aqui, Hershel Shanks (BAR), e principalmente Professor Mark Goodacre, que em varias postagens, aprresentou a influência do Professor Geza Vermes em sua carreira como estudioso,  bem como vários obituários e homengens ao Professor Vermes, na Economist, New York Times, e Los Angeles Times, bem como seu legado.

Muitos anos atrás tive meu primeiro contato com a obra do Professor Vermes, a partir do livro "A Paixão" (The Passion). Um livro simples, de facíl leitura, com poucas notas de rodapé e referências, claramente direcionado ao público leigo interessado. Passados vários anos, e comparando com vários outros autores, é impressionante ver a correção, verossemelhança e solidez da sua análise histórica. Os livros de Vermes tem essa característica. Com seu conhecimento enciclopédico, profundo domínio das fontes do período (foi um dos primeiros pesquisadores do Manuscritos do Mar Morto), bom senso e percepção dos fatos raramente vista, ainda que não fosse adepto de muitos formalismos ou faltasse a análise metódica, sistemática de outros estudiosos, mas seu Jesus Histórico fica muito bem ambientado na Palestina do século I. Seu trabalho "Jesus, The Jew", de 1973, foi paradigmático nos estudos do Jesus Histórico, ao elevar o contexto, a palestina judaica do século I, como crucial para o entendimento da figura histórica, ao comparar Jesus com outros carismáticos de seu tempo, como Hanina Ben Dosa, e Onias.
Quando escrevia a série de posts "Quem Eles Dizem Que Eu Sou: Os Historiadores e Jesus", tive contato com a autobiografia de Vermes (Providential accidents: an autobiograph), de 1998. É impressionante a história de vida do menino nascido em 1924, em Mako (Hungria) numa família judia, que se converteria ao catolicismo. Quando os nazistas ocuparam a Hungria, em 1944, Vermes perderia seus pais e a maior parte de seus familiares nos campos do Holocausto. Geza, sobreviveu, foi ordenado padre, e inicou sua carreira acadêmica na Bélgica (Universidade de Louvain), escrevendo sua tese de doutorado (1953) sobre os recém-descobertos Manuscritos do Mar Morto. Em 1957, Vermes deixou o sacerdócio e o catolicismo, e voltou ao seio do Judaismo, filiando-se a corrente Reformista. Foi Professor das Universidades de Newcastle upon Tyne e ( a partir de 1965) Oxford. Em Oxford lecionou n Wolfson College e da Faculty of Oriental Studies, da Universidade de Oxford, onde se tornou Professor Emérito de Estudos Judaícos.
Minha leitura do trabalho de Vermes esta no post Quem Eles Dizem Que Eu Sou? Os Historiadores e Jesus Parte II: Tradição, Narrativa e História (David Flusser, Geza Vermes e John M Roberts), de 28.12.2012. Professor Geza Vermes foi também autoridade na análise do Testemunho Flaviano, em que advoga a tese de que Josefo descreveu Jesus como homém sábio e realizador de feitos paradoxais. A tese de Vermes,  em seu importante artigo "The Jesus Notice of Josephus Re-Examined" (1987), foi objeto de análise aqui no adcummulus, na Série "Observando Jesus pelas Lentes de seus Adversários", nos meses de novembro e dezembro de 2009, em que foi abordada em conjunto com as menções de Jesus por Celso, e pelo Talmude.


 

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    Este blog tem como objetivo central a postagem de reflexões críticas e pesquisas sobre religiões em geral, enfocando, no entanto, o cristianismo e o judaísmo. A preocupação central das postagens é a de elaborar uma reflexão maior sobre temas bíblicos a partir do uso dos recursos proporcionados pela sociologia das idéias, da história e da arqueologia.
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