segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Significância de Jesus e a Escala Richter de Impacto Histórico: Corrigindo Erros na Internet: Parte 2b


No post anterior, conversamos um pouco sobre os problemas associados aos argumentos frequentemente encontrados na internet de que a falta ou escassez de referências não cristãs a Jesus seria uma prova de sua inexistência ou irrelevância histórica, citando como exemplo o filme para internet zeitgeist e lista de Remsburg. Uma vez que os autores do zeitgeist mencionaram Flávio Josefo, falamos anteriormente do relato deste escritor sobre a morte de Tiago, irmão de Jesus chamado o Cristo,. Neste post, onde ainda estamos discutindo algumas questões preliminares em nossa série "Jesus na História Richter de Impacto Histórico", vamos falar sobre a 2ª, e mais polêmica, encontrada em Antiguidades 18:63-64, o assim chamado:

Testimonium Flavianum.
Por esse tempo apareceu Jesus, um homem sábio, [se na verdade podemos chama-lo de homem]. Pois ele foi o autor de feitos surpreendentes, um mestre de pessoas que recebem a verdade com prazer. E ele ganhou seguidores tanto entre muitos judeus, como dentre muitos de origem grega. [Ele era [o] Cristo], E quando Pilatos, por causa de uma acusação feitas pelos nossos homens mais proeminentes, condenou-u a cruz, aqueles que o haviam amado antes não deixaram de faze-lo. [Pois ele lhes apareceu no terceiro dia, novamente vivo, exatamente como os profetas divinos haviam falado deste e de incontáveis outros fatos assombrosos sobre ele]. E até hoje a tribo dos cristãos, que deve esse nome a ele, não desapareceu"[Antiguidades Judaicas, 18:3 (§63-64)]

É verdade que, na forma que se encontra hoje, é muito pouco provável que tenha sido escrito por Josefo. Porém, dizer que "já foi provado ser uma fraude a centenas de anos" é uma meia-verdade. A opinião atual entre os estudiosos, com base nas pesquisas mais recentes, é que Josefo realmente mencionou Jesus, mas que seu texto foi alterado, provavelmente com a adição das frases entre colchetes, acima, pelos copistas cristãos do texto de Josefo, de forma a "embelezar" ou "turbinar" a referência a Jesus. Essa é a teoria da interpolação parcial.

Conforme explica o Professor Louis Feldman, da Yeshiva University:
"Quanto ao celebrado Testemunho Flaviano (Ant. 18:63-64) a grande maioria dos estudiosos o consideram como parcialmente interpolado, sendo esta também a minha conclusão. Que o núcleo básico é autêntico é reforçado pelo fato de que aparece em todos os manuscritos (ainda, que o mais antigo destes seja datado do XI século) e todas as versões, incluindo as traduzidas pelo latim pela Escola de Cassiodorus no século VI" [1].

John P. Meier acrescenta que foram adicionados a coleção de testemunhas indiretas versões variantes em síriaco e árabe [2]. A passagem é citada pela primeira vez por Eusébio de Cesaréia (263-339), em Demonstratio Evangelica 3.5 § 124 e Historia Ecclesiastica 1.11-7-8, escritas por volta do ano 320. Uma vez que todos os manuscritos de Josefo existentes contém o Testemunho Flaviano, eventual crítica em relação a autenticidade é interna, relacionada a aspectos de vocabulário, estilo, fraseologia...

Entre os argumentos para a rejeição total ou parcial da passagem esta o fato de que Josefo, que se dizia fariseu, passou os anos finais de sua vida na corte dos Imperadores Romanos. Como então ele poderia se referir a Jesus como o "Messias" ou que ele havia aparecido ao terceiro dia, ressurreto?

Na Série de posts "Jesus como Mestre e Sábio", discutimos como Josefo poderia ter considerado Jesus como sábio e mestre, além de analisarmos o caso de Galeno - que passou quarenta anos como médico da corte dos imperadores Marco Aurélio (que perseguiu os cristãos), Cômodo e Sétimo Severo - e apesar da suas reservas as bases intelectuais do cristianismo, considerava a "Escola de Cristo" capaz de transformar pessoas simplórias em seres humanos disciplinados, corajosos e ansiosos pela justiça, "verdadeiros filósofos". Outro citado foi o fílosofo neoplatônico Porfírio de Tiro (232-305 DC), que elaborou um violentos ataque a religião cristã, chamado Adversus Christianos ("Contra os Cristãos") em 15 volumes, e uma defesa a religião pagã, "Da filosofia dos oráculos", e mesmo assim chega a dizer que "Jesus foi um homem e virtuoso e sábio, querido até mesmo pelos deuses". Ao analisarmos a relação entre os primeiros cristãos e os fariseus, vimos que, no final do séc. I, não só que apresentavam um relação complexa, de tensão e afinidade, mas que quando Josefo escreveu, os grupos cristãos palestinos, como nazarenos e ebionitas, eram bastante atuantes, e tinham boas conexões com os fariseus.

Testimonium Flavianum na pesquisa atual: Em um post anterior, citei outro trabalho de do Professor Feldmann ("Josephus and Modern Scholarship"), que revisou a literatura relevante sobre Josefo entre 1937 e 1980 [3]. Se é verdade que poucos aceitam a autênticidade total da passagem, reduzido também é o número daqueles que crêem que ela seja uma interpolação completa. No período, 3 em cada 4 estudiosos creêm em uma menção a Jesus nessa passagem, e a posição dominante (70 %) é que foi escrita por Josefo, com alterações e/ou revisões cristãos.

Outro estudioso judeu, Dr. Paul Winter, conduziu um estudo similar, e analisou a literatura relevante de Josefo, revisando 47 estudiosos, que escreveram sobre o Testemunho Flaviano entre 1812 e 1968 [4]. Desses 47, nove o consideraram como basicamente autêntico, e inteiramente escrito por Josefo, 21 entendem que o paragrafo foi escrito por Josefo, mas contém adições cristãs (teoria da interpolação parcial) e 17 o consideravam totalmente falso. Assim, também segundo Winter, uma significativa maioria entre os estudiosos (62 %) aceitam a autenticidade parcial ou total do Testemunho Flaviano. Além disso há uma tendência ainda mais favorável a autenticidade parcial no periodo posterior a I Guerra Mundial (1914-1918).

Paul Winter, 25 estudos sobre Testimonium Flavianum – 1918-1968
6 (24 %) o consideraram como basicamente autêntico, e inteiramente escrito por Josefo,
13 (52 %) parcialmente autêntico, o paragrafo foi escrito por Josefo, mas contém adições cristãs 6 (24 %) espúrio (totalmente falso), o texto foi completamente interpolado por cristãos

Os dados de Winter [4], mostram fortalecimento da tendência de aceitação parcial ou total do Testemunho Flavianum (76 %). Com significativo crescimento dos adeptos da tese da interpolação parcial ( de 43 % para 52 %) Os resultados são similares aos de Feldman (55 % favoráveis a teoria da interpolação parcial, e 75 % favoráveis a autenticidade parcial ou total) . Assim, concluimos como Alice Whealey de que ao longo do século XX, cristalizou-se uma "grande tendência de estudiosos, independentemente de sua filiação religiosa, de considerar o texto como majoritariamente autêntico". Peter Kirby, "completa" os trabalhos de Winter e Feldmann, de 1980 até 1996. Em sua própria leitura, o "placar" é de 10 a 3, favoravel a autencidade parcial [5]. Christopher Price [6] chega a resultados parecidos, 15 a 1 favorável a autenticidade parcial.

Razões para o predôminio da Tese da Autenticidade Parcial:

Professor David Flusser, Universidade Hebraica
"E possível detectar o método do revisor cristão no início da passagem. "Nesta época viveu Jesus, homem sábio - se é possivel chama-lo de homem. É exatamente essa interpolação infeliz que garante a autenticidade da declaração de Josefo de que Jesus era um homem sábio" [7]

Professores Gerd Thiessen e Annete Metz,
"Nem os argumentos a favor da autencidade, nem os favoráveis à tese da interpolação são convincentes. Os primeiros explicam de forma insuficiente os aspectos cristãos, os últimos não fazem justiça ao fato de que há claras ressonâncias da terminologia de Josefo no texto. Por esse motivo, e também devido a descoberta de novas fontes, foram propostas diferentes teorias de reelaboração"[8]

Maria Antonia da Costa Pereira,
"São vários os aspectos que impedem os estudiosos de rejeitar o testimonium como total fabrico cristão. Questões linguísticas (embora se encontrem algumas singularidades que apontem para interpolações tardias não são suficientes para se recusar todo o texto); a forma como esta redigida a referência a Tiago, irmão de Jesus (AJ XX, 200), que implica que esta já havia sido apresentado; finalmente os aspectos comuns as várias versões que se podem encontrar do Testimonium Flavianum levam muitos autores a considerar que alguma coisa Josefo deve ter escrito sobre Jesus"[9]

Assim, entre os motivos para essa forte tendência favorável a autenticidade parcial por parte dos estudiosos, esta o fato das frases claramente cristãs do Testemunho Flaviano , como "se é que podemos chama-lo de homem", "Ele era o Cristo", "porque apareceu vivo a eles ao terceiro dia, como os divinos profetas tinham previsto estas e milhares de outras coisas maravilhosas a respeito dele" parecem não estar bem ligadas ao texto, enquanto que o restante é consistente com o estilo peculiar de Josefo. O outro motivo, é a existência de variantes do texto de Josefo, encontradas em Jerônimo (inicio do sec. V), Agapio (sec. X) e Miguel, o Sirio (sec. XII), que não contém algumas das partes usualmente consideradas como interpolações cristãs.

Versões: Por volta do ano 400, Jerônimo, em sua obra De Viris Ilustribus ("Dos Homens Ilustres") cita o Testimonium Flavianum da seguinte forma:
Ele [Josefo] também escreveu sobre o Senhor dessa maneira: "Nessa época viveu Jesus, um homem sábio, se é que podemos chama-lo de homem. Pois ele foi umrealizador de feitos maravilhosos, mestre de pessoas que recebem coisas verdadeiras com prazer. E ele ganhou muitos seguidores entre os judeus, quanto dentre os gentios, e acreditou-se que ele era o Cristo [Messias]. E quando por causa de uma acusação feita por nossos homens mais proeminentes Pilatos o crucificou aqueles que o haviam amado antes não deixaram de faze-lo. Pois ele lhes apareceu no terceiro dia, novamente vivo, exatamente como os profetas divinos haviam falado deste e de incontáveis outros fatos assombrosos sobre ele. E até hoje a tribo dos cristãos, que deve esse nome a ele, não desapareceu"

Alice Whealey [10] argumenta que o fato da passagem ser encontrada em Jerônimo basicamente na mesma forma, mas com uma variação no ponto crucial do texto, com a frase"Acreditou-se que ele [Jesus] era o Cristo" ao invés de "Ele era o Cristo", aponta que variantes do Testemunho Flaviano em grego circulavam na Antiguidade Tardia e início da Idade Média. Isso é evidenciado pela existência de uma versão do sec. XII do Testemunho Flaviano, em siriaco, de Miguel, o Sírio, em que também se lê "Acreditou-se que ele era o Cristo".

O escritor Josefo também diz em sua obra sobre as instituições judaicas: Nestes tempos havia um homem sabio chamado Jesus, se é que é apropriado chama-lo de homem. Ele foi um realizador de feitos gloriosos e um mestre da verdade. Muitos entre os judeus e dos gentios tornaram-se seus discipulos. e acreditaram que ele era o Messias, em desacordo com a opinião dos principais [homens] de [nossa] nação. Por causa disso, Pilatos o condenou a cruz e ele morreu. Mais aqueles que amavam não deixaram de estima-lo. Ele apareceu para eles vivo após três dias. Pois os profetas tinham predito dele coisas maravilhosas (como estas). E a tribo dos cristãos, que deve seu nome a ele, não desapareceu até [este] dia.

Segundo Whealey, os autores que escreviam em Latim e Siriaco não liam uns aos outros na antiguidade tardia. Contudo, latinos e sirios tinham acesso a obras em grego. Assim, segundo Whealey, a única explicação plausível e que Jerônimo e algum escritor sírio (provavelmente, Tiago de Edessa, que viveu no séc. VII), tiveram acesso a alguma variante grega do Testemunho Flaviano, contendo "Acreditou-se que ele era o Cristo" ao invés de "Ele era o Cristo" [11]. O fato é extremamente relevante pois a variação se dá justamente na frase mais problemática de todo o Testimonium, aquela em que é mais inacreditável que Josefo poderia ter escrito.

Mais talvez a mais importante versão do Testimonium esta na "História do Mundo", de Agapio, escrita em árabe em 941 DC, e publicada pelo Prof. Slomo Pines, da Univ. Hebraica, em 1971.

"Na época viveu um homem sábio, chamado Jesus, que indicou uma boa conduta de vida(*), era conhecido como virtuoso e tenha muitas judeus e gentios como discipulos. Pilatos o condenou a cruz e a morte, mas seus discipulos não desistiram de seu ensino, e contavam que três dias após sua crucificação lhes teria aparecido, estaria vivo, e por isso seria o Messias sobre o qual os profetas contavam maravilhas (ou milagres). (*) E a tribo dos cristãos ate hoje não cessou de existir [12]"

Acredita-se que a versão de Agápio seja um parafrase, e não uma tradução de Josefo. No entanto, é interessante que as frases "se é lícito chama-lo de homem", e "ele era o Cristo", apontadas como obvias interpolações estão ausentes. A frase sobre as aparições aos discipulos, ao 3º dia conforme o relato dos profetas, e sua messianidade, é meramente um relato dos díscipulos.
Agapio era um cristão melkita, bispo da cidade de Hieralópolis Bambice (Síria), então sob dominio muculmano. Feldman observa que estudiosos como Bammel acreditavam que as diferenças na versão de Agápio (em relação a que aparece hoje em Antiguidades) teriam se originado em um ambiente islâmico, possivelmente com finalidade apologética, uma vez que os cristãos foram confrontados com a crença de que alguém tinha morrido no lugar de Jesus, e ele mesmo havia escapado [13]. A propósito, o Alcorão, diz o seguinte a respeito da vida e ministério de Jesus:

"E quando os anjos disseram: Ó Maria, por certo que Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome será o Messias(148), Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no outro, e que se contará entre os diletos de Deus. Ele lhe ensinará o Livro, a sabedoria, a Tora e o Evangelho. E ele será um Mensageiro para os israelitas, (e lhes dirá): Apresento-vos um sinal do vosso Senhor: plasmarei de barro a figura de um pássaro, à qual darei vida, e a figura será um pássaro, com beneplácito de Deus, curarei o cego de nascença e o leproso; ressuscitarei os mortos, com a anuência de Deus, e vos revelarei o que consumis o que entesourais em vossas casas. Nisso há um sinal para vós, se sois fiéis.” [14].
E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de Deus, embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram(315), senão que isso lhes foi simulado. [15]

Os muçulmanos acreditam em Jesus como mensageiro de Deus, que realizou curas, milagres, ensinou e teve discpulos, e o reconhecem como o Messias. Crêem que ele era humano, e não divino. Afirmam, no entanto, que Jesus não foi realmente crucificado, outra pessoa morreu em seu lugar, ( Judas ou Simão de Cirene), e seu substituto teria sido transfigurado para se parecer com ele, tendo as pessoas sido iludidas a acreditar em sua crucificação.

Se Agápio tivesse tido acesso a versão atual do Testimonium, seria estranho não ter mencionado a frase "se é lícito chama-lo de homem", ou a afirmação categórica "porque ele apareceu a eles vivo novamente no terceiro dia; como os divinos profetas tinham previsto estas e milhares de outras coisas maravilhosas a respeito dele" ter sido alterada por um mero relato dos díscipulos. Por outro lado, na versão de Agápio, a referência sobre a crucificação e morte de Jesus teria efeito apologético muito reduzido, visto que o Corão afirma que os judeus (o que inclui Josefo) realmente acreditavam que Jesus tinha sido crucificado ("isso lhes foi simulado"). E que sentido haveria em Agápio inventar uma versão do Testimonium que - não faz referência aos feitos extraordinários de Jesus, nem o reconhece claramente como Messias (ao contrário do Corão), e no resto, concordaria em tudo com as crenças islâmicas (que também creem que Jesus era sábio e virtuoso) - em suma, que não daria nenhum suporte as crenças do (suposto) interpolador?

Feldman observa que Agapio, como cristão convicto, certamente não retiraria do texto a parte que fala que Jesus era sobre-humano, e, provavelmente, não o editaria ara que fosse mais palatável aos muçulmanos, e assim, "reproduz o que encontrou". Acrescenta que Pines demonstrou que a fonte de Agapio é uma versão síria, ainda mais antiga, do Testemunho Flaviano. Em todo caso, aceite-se ou não a versão de Agápio como sendo próximo do que Josefo teria escrito, Feldman conclui que seu grande valor e reforçar ainda mais a probabilidade de que Josefo escreveu algo sobre Jesus, um testemunho neutro, até mesmo negativo, uma vez que faltam justamente as partes a qual se acredita que Josefo não poderia ter escrito, por atestarem o carater messiânico de Jesus[16].

Uma dos motivos porque os estudiosos consideram que Josefo realmente mencionou Jesus, é o fato do Testimonium Flavianum contém a frase "E quando Pilatos a sugestão de nossos líderes o crucificou". Como observa Paul Winter, não é próvavel que a equilibrada distinção entre a denúncia, atribuida aos lideres judeus, e a condenação e execução, conduzida por Pilatos, seja fruto de um interpolador cristão pós origeniano [17]. Ele observa que desde meados do II século os escritores cristãos, repetidamente, minizaram a culpa de Pilatos (e dos romanos) lançando toda, ou quase toda, responsabilidade sobre a execução de Jesus sobre os judeus [17]. E aqui, podemos acrescentar que a "culpa" geralmente era atribuida não só aos lideres judeus, como no Testimonium, mas a todos os judeus, como em Origenes, escrevendo em cerca de 240 DC, que reclama pelo fato de Josefo não ter dito que as "maquinações contra Jesus foram a causa das misérias que atingiram o povo [judeu], pois tinham matado o Cristo"). Se, ainda, levarmos em conta a versão de Miguel,o Sírio - em que os lideres judeus não compartilharam da opinião de alguns do povo de que Jesus era o Cristo, e não são mencionados (explicitamente) como tendo agido para que Jesus fosse crucificado - ou a versão de Agápio - em que Pilatos decide crucificar Jesus, e os líderes judeus não são sequer mencionados, ainda que nos parágrafos imediatamente anterior e posterior ao Testimonium, Agapio diga que judeus mataram Jesus - tornam quase certo que, no mínimo, Josefo escreveu algo sobre a morte de Jesus por ordem de Pilatos.

O Prof. Steve Mason, da Univ. de York, e um dos principais estudiosos de Josefo, observa que a existência de versões alternativas do testimonium encoraja a maioria dos pesquisadores a acreditar que Josefo escreveu algo semelhante ao que temos hoje "cristianizado", "se a versão laudatória de Eusébio e do texto atual foi completamente inventada por escribas cristãos, de onde surgiram então as versões mais "contidas" de Jerônimo, Agápio e Miguel, o Sirio"? [18]

Segundo Mason, a versão de Agapio praticamente elimina as principais dificuldades do associadas ao Testemunho Flaviano, pois (a) não é relutante em considerar Jesus um mero homem (b) não faz referência a milagres de Jesus (c) Pilatos executa Jesus por conta própria (d) Apresenta as aparições "post-mortem" do Jesus como algo relatado pelos discípulos, não como um fato (e) Josefo especula sobre Jesus ser o Messias, mas não afirma explicitamente (f) é dito apenas que os profetas falaram a respeito do Messias, quem quer que ele fosse, e não especificamente sobre Jesus. Esta mudança também explicaria o estranho termo "Messias" para os leitores de Josefo. Em suma, para Mason, a versão de Agapio do Testemunho soaria como algo que um observador judeu do I século poderia ter escrito de Jesus e seus seguidores. [18].

Reconstrução do Testimonium: A descoberta de Agápio e outras versões, associadas a pesquisas de vocabulário e estilo, fizeram avançar propostas de reconstrução do Testimonium, tais como a do estudioso católico John P. Meier (que segue, de modo geral, a proposta dos acadêmicos judeus Joseph Klausner e Paul Winter), que tem encontrado larga aceitação:

"Por esse tempo apareceu Jesus, um homem sábio. Pois ele foi o autor de feitos surpreendentes, um mestre de pessoas que recebem a verdade com prazer. E ele ganhou seguidores tanto entre muitos judeus, como dentre muitos de origem grega. E quando Pilatos, por causa de uma acusação feitas pelos nossos homens mais proeminentes, condenou-u a cruz, aqueles que o haviam amado antes não deixaram de faze-lo. . E até hoje a tribo dos cristãos, que deve esse nome a ele, não desapareceu" (versão de Meier) [19]

A vantagem da proposta de Meier é sua simplicidade. As frases apontadas como interpolações cristãs parecem tão pouco ligadas ao resto do parágrafo que podem ser retiradas, sem que se perca o sentido ou a coesão do texto, tal como se estivessem entre parenteses - Nesta época viveu Jesus um homem sábio, (se é que podemos chama-lo de homem) um realizador de feitos extraordinários (...) - Excluídas essas frases, o paragráfo mantém sua coesão e sentido. As frases tidas como "cristãs" e as (supostamente) josefanas estão postas no parágrafo tal como uma porção de água e outra de óleo se apresentam na imagem ao lado.

Importante ainda é que, pelo menos as duas primeiras, apresentam estilo e linguagem estranho a Josefo ao mesmo tempo que são linguisticamente ligadas ao Novo Testamento. O estudo de Meier demonstra que, ao mesmo tempo em que as palavras e frases chave do "núcleo" do Testimonium ou não aparecem no Novo Testamento ou são ali empregadas num sentido totalmente diferente, quase todas as palavras do núcleo são encontrados em outros textos da obra de Josefo, sendo grande parte do vocabulário característico de Josefo [20]. Ele observa que a palavra grega hedone (prazer) aparece 5 vezes no Novo Testamento, e sempre num sentido de condenação. Em Josefo, essa palavra ocorre 128 vezes. Já paradoxos (incríveis, controversos), é um termo que aparece uma única vez no Novo Testamento, e 50 vezes em Josefo. [21]

A proposta de Meier foi muito bem aceita e tornou a abordagem e solução padrão para a questão do Testimonium, sendo endossada por estudiosos de várias orientações religiosas como o protestante N. T. Wright, o católico (bem) liberal John Dominic Crossan (De Paul University, EUA), a judia Paula Frederiksen (Boston University) e o agnóstico Bart Erhmann (Universidade da Carolina do Norte) [22] entre outros.

Paralelamente, o Professor Geza Vermes chegou a uma reconstituição semelhante a de Meier:
"Por esse tempo apareceu Jesus, um homem sábio. Pois ele foi o autor de feitos surpreendentes e um mestre de pessoas que recebem a verdade com prazer. E ele ganhou seguidores entre muitos judeus, [como dentre muitos de origem grega]. Ele era o assim chamado Cristo. E quando Pilatos, por causa de uma acusação feitas pelos nossos homens mais proeminentes, condenou-u a cruz, aqueles que o haviam amado antes não deixaram de faze-lo. . E até hoje a tribo dos cristãos, que deve esse nome a ele, não desapareceu"[23]

Vermes mantém a referência a messianidade de Jesus, agora como uma crença dos cristãos e não como uma afirmação de Josefo, uma vez que Josefo se refere a Tiago, como o "irmão de Jesus o assim chamado o Cristo". Isso é reforçado pelas versão variantes de Jerônimo e Miguel o Sírio (acreditou-se que ele era o cristo, ou o "foi chamado de Cristo").

Em outro estudo, Vermes chama a atenção a descrição dos feitos maravilhosos de Jesus como paradoxa, pois o Novo Testamento usa uma única vez essa palavra (contra 50 em Josefo), enquanto que a pregação cristão definia os atos de Jesus como "feitos poderosos" (grego: dunameis), ou sinais (semeia), e que seriam as escolhas mais obvias de um interpolador que criasse o testemunho com finalidade apologética. Assim como Josefo, Celso, o ferrenho crítico do cristianismo do final do sec. II, emprega expressão paradoxa poites, para descrever os feitos de Jesus, atribuindo-os a seu conhecimento de magia (Contra Celso 1:6), o que é interessante, uma vez que, conforme observa Alice Whealey, além do termo paradoxa para designar os feitos de Jesus ser raro na literatura cristã pré Concílio de Nicéia, a combinação com o termo poites (realizar), não é encontrada em lugar nenhum da literatura cristã pré-Origenes [24]. Uma vez que se torna improvável que a fonte dessa expressão seja a pregação cristã, é possível que Celso tenha utilizado uma fonte independente, como Josefo.

Além dessas versões neutras, houve propostas de reconstituição de um Testimonium originalmente negativo quanto a Jesus. O Professor Robert Eisler observou que a alteração de algumas letras poderia dar ao texto uma característica totalmente diferente. Sophos aner (sábio) ser lido como sophistes aner (usado para líderes de facção que Josefo não gostava, ou mestres versados nas escrituras que usavam seu conhecimento para desorientar ou enganar, como Judas Galileu); alethe (verdade) também é muito parecido em grego com aethe (estranho), epêgageto (atrair) também pode ter a conotação de "desencaminhar". Assim, em 1931, Eisler propôs uma versão do Testemunho Flaviano que teve bastante repercussão na época:

Neste tempo surgiu [um foco de novos tumultos], um certo Jesus, um homem astuto se é que podemos chamar de homem, [aquele que foi o mais monstruoso dos homens, a quem os díscipulos chamavam o filho de Deus, como tendo feito maravilhas que nunhum outro fizera antes....] Ele era realmente um mestre de truques espetaculares, para aqueles que aceitam o anormal com prazer.... e ele seduziu muitos judeus e também muitos gregos, e foi considerado por eles o Cristo*.... E quando, por causa de uma acusação feita por nossos homens mais proeminentes, Pilatos o sentenciou a cruz, aqueles que o haviam amado não cessaram de causar tumultos. [Por que acreditavam], que tendo estado morto por três dias, ele lhes havia aparecido novamente vivo, como os profetas divinos haviam falado deste e de incontáveis outros fatos assombrosos sobre ele. E até hoje a tribo dos cristãos**, que devem seu nome a ele, não desapareceu."[25]

A proposta de Eisler teve bastante repercussão na época, e encontrou varios seguidores nas décadas seguintes tais como os Professores SGF Brandon e W. Bienert. A proposta é engenhosa pois mantém a totalidade do Testimonium, com um relato agora hostil a Jesus. No entanto, as adições foram consideradas temerárias e especulativas, justamente por não encontrarem suporte em manuscritos gregos de Antiguidades, suas versões em outras linguas antigas, ou em citações. No entanto, versões mais moderadas da tese de Eisler, sem as adições, encontraram apoio de muitos estudiosos. A proposta de reconstituição, do Prof. F.F. Bruce, (1910-1990), da Universidade de Manchester, mantém alguns dos "insights" de Eisler, com vantagem de praticamente não depender de reconstituições de partes perdidas do texto:

"E por essa época surgiu [um novo foco de dificuldades] um certo Jesus, homem sábio. Ele era operador de feitos maravilhosos, mestre daqueles que recebem coisas estranhas com prazer. Atraiu a muitos judeus e muitos gregos. Esse homem era o assim chamado Cristo. E quando Pilatos, ante ao pronunciamento dos principais vultos dentre nós, o condenara a crucificação, aqueles que o haviam amado de começo não cessaram de faze-lo. Pois lhes apareceu, [segundo diziam], vivo outra vez ao terceiro dia, havendo os divinos profetas falado isso e milhares de outras coisas a respeito dele, e mesmo agora, a família dos cristãos, assim denominados por causa dele, ainda não se extinguiu." [26]

É interessante que Bruce propos esta versão em 1943, e Eisler faleceu em 1949. Em 1971, Slomo Pines trouxe ao conhecimento da comunidade científica as versões de Josefo em Agápio e Miguel, o Sírio, que forneceram fortes evidências que boa parte do que Bruce e Eisler propuseram correspondia ao texto original de Josefo. Agápio não contém a frase "se é que podemos chama-lo de homem". As aparições do Jesus ressurecto são relatos dos díscipulos, não algo que Josefo afirma ou se compromete. Em Agápio, Josefo relata que os discipulos de Jesus diziam que ele era o Cristo. Na citação de Miguel, Josefo diz que os seguidores de Jesus pensaram, acreditavam (e porque não, chamaram) que ele era o Messias.

Mas, afinal, Josefo tinha uma visão positiva ou negativa sobre Jesus? Ou seja, qual dessas reconstituições é a correta? Embora a reconstituição negativa, a la Eisler ou Bruce, tenha seus muitos (e qualificados) defensores, sua popularidade foi ultrapassada pelas versões neutras, principalmente em décadas mais recentes. Uma das razões nos é dada por Alice Whealey, uma vez no tempo em Josefo escreveu a relação entre Judeus e Cristãos não era tão polarizada e antagônica como seria nos séculos seguintes[27]. Ou seja, não se deve considerar, a priori, que a atitude, por exemplo, os rabinos do Talmude fosse a mesma de judeus do final do sec. I. De fato, recentemente, tem sido crescente, se não majoritária, a visão de que, a despeitode tensões existentes desde seu surgimento, a divisão definitiva de caminhos entre judeus e cristãos se deu em meados do sec. II, e em algumas regiões muito posteriormente.

Prof. Robert Van Voorst apresenta algumas razões adicionais i) Josefo foi utilizado, basicamente, por cristãos ( e não por pagãos e judeus), que conservaram suas obras e o citaram repetidamente. Houvesse em Josefo uma observação negativa e agressiva a Jesus não haveria tanto "estímulo" para copiar e citar Josefo ao longo dos séculos, e hoje, o mais provavel, e que a obra dele estivesse perdida. ii) A versão de Agápio que mesmo não sendo de maneira alguma negativo a Jesus, não contém a maior parte do material "suspeito" de interpolação, além de apresentar o status messianico de Jesus e sua ressureição como crenças cristãs iii) O relato positivo de Josefo a respeito de João Batista, uma figura perturbadora o suficiente para ser executado por Herodes Antipas, Rei vassalo de Roma. iv) Uma vez que ambas as hipóteses pressupoem que há tanto material claramente cristão e josefano na passagem e que é possivel separar, mesmo com alguma imprecisão, o relato original, mantendo a coesão e sentido do relato, as versões negativas tem a desvantagem de exigirem conjecturas em relação a partes supostamente perdidas do texto, o que implica que a hipotese da versão neutra tem poder explanatório semelhante que a das versões negativas, com a vantagem de apresentar maior simplicidade, e deve ser preferida [28].

Se as razões acima tornam pouco provável a existência de um texto originalmente hostil a Jesus em Josefo, pela necessidade de postular a existência de frases perdidas, sem que haja suporte nos manuscritos e citações existentes, o fato é que alguns dos insights de autores como Eisler e Bruce (ou Twelftree, Ernest Bammel) são bastante plausíveis. Um exemplo nessa direção foi dado pelo historiador francês Theodore Reinach, ainda em 1897:

"Por este tempo apareceu Jesus, chamado Cristo, um homem sagaz, (pois era um realizador de feitos miraculosos), que ensinava aqueles que eram ansiosos por coisas novas, e que seduziu muitos judeus e muitos gregos. Ainda que Pilatos por uma acusação dos nossos líderes o condenou a cruz, aqueles que o amaram desde o início (ou aqueles a quem ele enganou desde o início) não deixaram de segui-lo, e até hoje a tribo dos cristãos, que deve seu nome a ele não deixou de existir [29].

Essa reconstituição e, outras semelhantes, utilizam o fato, já comentado, de que é possivel ler "astuto" ("sophistes") ao invés de "sábio" ("sophos"), de que o verbo "epêgageto" tem conotação possível tanto de "aliciar" ou "seduzir" seguidores quanto de "ganhar" ou "atrair", que Jesus pode ter ensinado coisas "estranhas" (aethe) ao invés de "verdadeiras" ("alethe"), sem nenhuma alteração significativa do que temos hoje, logo uma versão neutra, com leves pitadas de sarcasmo e leves alfinetadas nos cristãos, também é possivel, permitindo alguma ambiguidade tanto para um retrato levemente negativo ou positivo.

Seja como for, as versões antigas do Testimonium, e as suas reconstruções modernas apontam de forma clara que Josefo considerava Jesus um líder carismático, que atraiu (ou aliciou) um grupo de seguidores significativo, e cujas atividades chamaram a atenção de Pôncio Pilatos, que o mandou crucificar. No entanto a força dessa ligação entre Jesus e seus discipulos foi tão grande que os seguidores, chamados cristãos por causa dele, ainda existiam décadas depois da morte de Jesus. É provável também que Josefo tenha relatado dos feitos surpreendentes (ou maravilhosos, ou controversos, mas em todo caso, paradoxais), foi considerado o Cristo por seus discípulos, que os líderes judaicos tenham participado direta ou indiretamente de sua execução (seja não dando suporte as reinvidicações de Jesus e seus seguidores, como em Miguel o Sírio, seja formulando a denúncia contra Jesus). É plausivel, em vista da versão de Agápio, que os díscipulos tenham relatado aparições de Jesus após sua morte.
CONTINUA, (próximo post objeções mais comuns a autenticidade parcial)

Referências Bibliográficas
[1] Louis H Feldman (1984), Flavius Josephus Revisited, The man, His Writings, and his significance, In Wolfgang Haase & Temporini; Aufstieg und Niedergang der römischen Welt, page 822
[2] John.P. Meier, Um Judeu Marginal, fl. 70
[3] Louis Feldmann, Josephus and Modern Scholarship, in Peter Kirby, Testimonium Flavianum http://www.earlychristianwritings.com/testimonium.html , acessado em 17.02.2010
[4] Paul Winter, "Excursus II -Josephus on Jesus and James," in E. Schurer, The History of the Jewish People in the Age of Jesus Christ, rev. and ed. by G. Vermes and F. Millar, pages 428-441. A partir de 1918, Winter cita os estudos de B Brune (1919), W.E. Barnes (1920), R. Laqueur (1920), Van Liempt (1927), F. Dornsieff (1936), e R.H. J. Shutt no campo "Defending Authenticity, istoé, o texto que temos hoje é totalmente ou quase totalmente de Josefo. No campo contrário, "Against Authenticity", temos E. Meyer (1921), L. Wohleb (1927), Solomon Zeitlin (1928), L. Hermann (1929), Hans Conzelmann (1959), F. Hahn (1966), que crêem que o texto foi provavelmente interpolado, totalmente, em Antiguidades. A posição dominante, esta entre os estudiosos listados no campo "Maintaining Theory of Interpolation", que defendem a interpolação parcial, congregando Joseph Klausner (1925), Robert Eisler (1931), Maurice Goguel (1933), W. Bienert (1936), Ch. Martin (1941), F. Scheidwieler (1951), C.K Barret (1956), o próprio Winter (1961) T.W Manson (1962), André Pelletier (1964), SGF Brandon (1968), além de H St. J. Thackeray (1929), que Winter cita para definir os defensores dessa posição " The paragraph in the main comes from Josephus or his secretary, but the christian censor has, by slight omissions and alterations, so distorted it as to give a wholly different complexion" ("o paragrafo foi basicamente escrito por Josefo ou seu assistente, mas o editor/censor cristão, com pequenas omissões e alterações, o distorceu de tal forma que lhe deu um caratér completamente diferente") e Louis Feldman (1965), que também nos dá uma boa definição "A visão mais provável parece ser a que nosso texto representa substancialmente o que Josefo escreveu, mas que algumas alterações foram feitas pelo interpolador cristão".
[5] Peter Kirby (2001), Testimonium Flavianum, www.earlychristianwritings.com/testimonium.html
[6] Christopher Price (2004), Did Josephus Refer to Jesus? www.bede.org.uk/Josephus.htm
[7] Gerd Theissen e Annete Merz (1996), Jesus Histórico, um Manual, fl. 88-89
[8] David Flusser (1998), Jesus, fl. 12
[9] Maria Antonia da Costa Pereira (2004) , "Os Primeiros Cristãos em Flávio Josefo: João Baptista, Jesus Cristo e Tiago, irmão de Jesus" In: Revista Lusófona de Ciência das Religiões, Ano III, 2004, n° 5/6 -191-200.
[10] Alice Whealey (2000), 'The Testimonium Flavianum controversy from Antiquity to the Present", fl. 2 in SBL Josephus Seminar, Papers from 2000 Session (acesso em 17.02.2010) http://pace.mcmaster.ca/media/pdf/sbl/whealey2000.pdf
[11] Alice Whealey (2000), The Testimonium Flavianum controversy from Antiquity to the present, fl.10, nota 8, in SBL Josephus Seminar, Papers from 2000 Session (acesso em 17.02.2010) http://pace.mcmaster.ca/media/pdf/sbl/whealey2000.pdf
[12] David Flusser (1998), Jesus, The Sage from Galilee fl.148. A última frase, sobre a "tribo dos cristãos", foi emendada por Pines a partir do texto grego. Há uma versão online, em inglês, da "História do Mundo" de Agapio, elaborada e disponibilizada por Roger Pearse (2009), que é uma parafrase da tradução francesa do texto árabe de Agapio, publicado por Alexander Vasiliev (1907) , em Patrologia Orientalis, volume 7, fls. 457-591. A versão de Agapio do Testemunho Flaviano se encontra na página 470-471, aqui
[13] Louis Feldman (1984), Flavius Josephus Revisited..., In Wolfgang Haase & Temporini; Aufstieg und Niedergang der römischen Welt, fl. 834
[14] Alcorão 3:45, 48 e 49
[15] Alcorão 4:157
[16] Louis Feldman (1984), "Flavius Josephus Revisited...", In Wolfgang Haase & Temporini; Aufstieg und Niedergang der römischen Welt, fls. 834-835
[17] Paul Winter (1961) Sobre o processo de Jesus, fl. 127; Winter também escreve (fl. 130/131): "Justino, entretanto, apesar de em I Apologia XIV 3 referir-se a (...) Jesus que foi crucificado por Pôncio Pilatos, o governador, sugere em outras passagens que a crucificação foi obra dos judeus. Melito de Sardes fala aos judeus que não só condenaram Jesus a morte mas ainda o pregaram na cruz com as próprias mãos "Embora Jesus tivesse necessariamente de ser crucificado, Israel deveria ter deixado que ele sofresse nas mãos dos gentios, pela mão do opressor, e não pela ação de Israel" retoricamente se dirige a Israel "Aquele para quem até Pilatos lavou a mãos, vós o matastes"
No credo apostólico o nome de Pilatos é mencionado de forma não comprometedora, apenas como referência cronologica - "sofreu sob Pôncio Pilatos"- sem qualquer indicação de que Pilatos teria sido o instrumento desse sofrimento. Na falsa epístola de Pilatos ao Imperador Claúdio, o governador afirma que Jesus foi executado graças a subterfúgios dos judeus. Numa estranha mistura em que se destacam elementos buscados em João e Lucas, Irineu conta que Herodes [Antipas] e Pôncio Pilatos reuniram-se e condenaram Jesus a ser crucificado "Herodes temia que ele [Jesus] tomasse seu lugar (...) e Pilatos foi pressionado pelos judeus que o cercavam a entrega-lo [Jesus] contra a vontade, apoiado no fundamento de que não faze-lo seria ir contra César, libertando um homem que recebera o título de Rei". Tertuliano, referindo-se às várias noções de Jesus correntes entre seus contemporâneos afirma "(...) e o povo já conhecia Cristo, um homem certamente de alguma importância, que os judeus julgaram (...) (os judeus) mataram-no como um adversário (...) toda a sinagoga dos filhos de Israel o matou. O processo de refinamento do retrato de Pilatos foi tão longe que na época de Tertuliano, o Padre da Igreja poderia até se referir como já ciente da verdade cristã". Assim, Winter demonstra, com essas citações de escritores cristãos do sec. II até o tempo de Orígenes, como se cristalizou uma retórica recorrente de absolver Pilatos e lançar a culpa sobre todos os judeus, indistintamente. Isso se acentou nos séculos seguintes, com funestas consequências.
[18] Steve Mason (2003) "Josephus and the New Testament", fl. 172
[19] John P. Meier (1991), Um Judeu Marginal, Volume 1, fl.69
[20] John P. Meier (1991), Um Judeu Marginal, Volume 1, fl. 71.
[21] John P. Meier (1991), Um Judeu Marginal, Volume 1, fls 87 a 90, nota 41 e 42 .
[22] ver John D. Crossan (1994), Jesus uma Biografia Revolucionária, fl. 172; Paula Frederiksen (1999), Jesus of Nazareth, King of the Jews, fl. 249; Bart Erhmann (1999) Jesus, apocalyptic prophet of the new millennium, fl. 59-62;
[23] Geza Vermes (2010), Jesus in the eyes of Josephus, Standpointmag, jan/fev 2010.
[24] Alice Whealey (2005), "Josephus, Eusebius the Ceasarea, and the Testimonium Flavianum" in Christfried Bottrich, Jens Herzer, Torsten Reiprich eds. (2007), Josephus und das neue Testament, Wechselseitige Wahrnehmungen II, fls. 82-83
[25] Robert Eisler (1931), The Messiah Jesus, fl. 61
[26] F.F. Bruce (1949),
[27] Alice Whealey (2000), The Testimonium Flavianum controversy from Antiquity to the present, fl.7, in SBL Josephus Seminar, Papers from 2000 Session (acesso em 17.02.2010) http://pace.mcmaster.ca/media/pdf/sbl/whealey2000.pdf
[28] Robert Van Voorst (2000), Jesus Outside of New Testament: an introduction to ancient evidence, fls 95-99.
[29] citado por Maurice Goguel (1926) Jesus the Nazarene: Myth or History, capitulo II, fl. 35

3 comentários:

Flavius disse...

Prezado Flávio Souza,

suas pesquisas e compartilhamento público pela Internet são inestimáveis. Eu sou profundamente grato.

O debate de existência histórica ou não de Jesus é realmente fascinante. Se nos posicionarmos pela historicidade de Jesus, deveremos igualmente estender a historicidade à totalidade do evangelho de Mateus, por exemplo?

Como devemos recepcionar o cap. 10 desse evangelho, em que Jesus concede vários poderes, inclusive ressuscitar os mortos, sendo um dos discípulos consagrados Judas Iscariotes? Um fato histórico ou se sujeita a outra classificação? Se esta, como seria nominada?

De um sedento aprendiz,
um fraterno abraço.

Flávio Santos

Nehemias disse...

Oi Flavio,

Na verdade o post foi escrito por mim, Nehemias (NM). Faz algum tempo o Flavio convidou a mim, e ao Rodrigo (informador de opinião) para escrevermos aqui.

A sua pergunta é muito interessante. Excelente questão.

Se falamos em estudar o evangelhos como fontes históricas do cristianismo primitivos, temos que trata-los da mesma forma que outros escritos antigos. Eles podem conter fato, ficção, ou ambos.

Ou seja, temos até hoje relatos de personalidades, lideres religiosos a qual se atribuem milagres. Eu, por exemplo, não sou kardecista e não acredito que se possa falar com os mortos, mas não posso negar que Chico Xavier existiu, e que as pessoas acreditavam que ele tinha poderes mediúnicos, e que essa crença é generalizada, e que muitos se inspiram nele e crêem ser medíuns também.

Na Antiguidade, temos um fenômeno parecido. Autores como Tacíto, Plutarco, Josefo e Herodoto relatam inúmeros milagres, atribuidos a pessoas reais, como Alexandre, Augusto, Vespasiano, e são utilizadas como fontes históricas.

Um exemplo muito interessante é do biógrafo romano Caio Suetônio Tranquilo, que escreveu biografias dos doze primeiros Césares, em cerca de 125 DC. Sua obra é fonte histórica inestimável para os séculos I AC e I DC. Mas ela esta recheada de ocorrências miraculosas, e ele utiliza muito presságios e oráculos para estruturar seu relato. Do Imperador Vespasiano (69-79 DC), ele escreve como ele foi capaz de curar um cego e um coxo:

"A fortuna revestiu, dessa forma, a personalidade de Vespasiano de dois atributos necessários, como é normal a um príncipe improvisado e ainda novo: a autoridade e uma quase majestade. Dois homens do povo, um cego, outro coxo, foram procura-lo, ao mesmo tempo, no seu tribunal, suplicando que os curasse, certos que estavam de que Serapíde lhes havia assegurado, através de sonho, que um recobriria a vista se o Imperador lhe cuspisse nos olhos e outro caminharia de forma certa, se ele se dignasse a tocar-lhe a perna com o pé. Vespasiano, não dando crédito ao sucesso de uma tal cura, não ousou mesmo tenta-la. Enfim, cedendo aos empenhos dos amigos resolveu realizar publicamente, diante de uma multidão, uma e outra experiência. O resultado foi deveras excelente" (Suetônio, A Vida dos Doze Césares, Vespasiano).

A mesma história, com algumas diferenças, é contada por Tácito. Suetônio relata vários outros prodígios de Vespasiano, como de que a Estátua de Julio César, em Roma, teria se virado sozinha quando Vespasiano foi aclamado Imperador, na Judéia. Flávio Josefo conta que ele profetizou a ascensão de Vespasiano ao poder, mas o Talmude atribui a profecia ao Rabino Ieohanã ben Zakai.

Ou seja, se os caras a qual se acredita que escreveram história falavam coisas assim, não temos porque rejeitar os evangelhos como fonte histórica. De fato, como escrevi no 1° post dessa série, grande parte, se não a maioria dos estudiosos enquadra os evangelhos como biografia antiga (Bioi ou Vita).

Então, depois dessa volta toda, respondendo o que vc perguntou, podemos dizer que:

1) Aceitar a historicidade de Jesus não implica, necessariamente, em aceitar a totalidade, até mesmo a maioria do que relata
os evangelhos (não só os quatro, mas o de Tomé, Pedro....)

2) No caso de Mateus 10. Podemos dizer que Jesus tinha "fama" de realizador de milagres (veja a série de posts "Jesus e seus adversários; Magia" para maiores detalhes). E que é provável que seus discípulos tentavam ou mesmo afirmavam realizar milagres em seu nome (como alías, muito gente faz hj em dia), o que não quer dizer que tudo que Mateus relata nessa passagem realmente aconteceu.

Abs,

Nehemias

informadordeopiniao disse...

Olá pessoal,

além de reiterar os parabéns ao formidável trabalho de Nehemias, uma fonte inestimável e uma pérola no mar da internet, sobretudo em língua portuguesa, aproveito essa questão colocada para compartilhar um texto que deixei traduzido, com a fonte do original em inglês, no meu blog:
Os Milagres de Jesus: Um Inquérito Histórico - do Christopher Price:
http://bibliosofia-informadordeopiniao.blogspot.com/2009/11/os-milagres-de-jesus-um-inquerito.html

Aproveito para deixar que eu e o Flávio conversamos e pretendemos voltar às nossas atividades aqui também para mais logo.

Abraços!!

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