Estamos vibrando com a excelente iniciativa de nosso amigo
Flávio de incrementar novos tipos de postagens no AD Cummulus, dando mais dinamicidade
ao mesmo e potencializando os insights e horizontes que se descortinam nas
nossas leituras e reflexões sobre o campo de interesse do blog. São drops valiosíssimos também para estimular o interesse em pessoas que se deparam com este campo de estudo acadêmico e que poderão ajudar a disseminá-lo mais no Brasil
E nosso amigo e fundador começou
com uma exploração de grande fecundidade, de interesse literário, sociológico e
histórico-cultural sobre o ambiente das ideias escatológicas envolvendo Jesus e
os grupos religiosos do período. Flávio propõe-se a analisar as interfaces com escatologias presentes no
ambiente farisaico.
A gente vislumbra pontes e pontos de apoio para muitos
saltos e dos feixes que se formam a gente vai tentando amarrar. Me lembro de
cara dos hinos de origens judaicas e rearranjados pelos judeus-cristãos da
abertura do evangelho lucano, capítulos 1 e 2, por Izabel, Maria, os anjos no Gloria
in Excelsis, Simeão... como sorvem em expectativas com muitas semelhanças aí.
Reflexo dos anseios dos primeiros convertidos, e antes deles, de judeus com
grandes anelos e anseios messianológicos.
Daí, em relação a eles, em Jesus parece-nos mais verossímil conceber que nele
havia um embebimento comum de tradições judaicas como as refletidas no 1Enoque (como 51,3-4):
Ele [um anjo] disse: Todas essas coisas que contemplas serão para o domínio do Messias, para que ele possa comandar e ser poderoso sobre a terra.
E aquele anjo de paz respondeu-me dizendo: Aguarde mais um curto espaço de tempo, e entenderás, e cada coisa secreta que o Senhor dos Espíritos tem decretado será revelada a ti. Aquelas montanhas que viste, a montanha de ferro, a montanha de cobre, a montanha de prata, a montanha de ouro, a montanha de metal fluido e a montanha de chumbo, todas estas, na presença do Eleito,serão como um favo de mel diante do fogo, e como a água descendo de cima sobre estas montanhas, e devem tornar-se debilitadas diante de teus pés.
Também refletidas em 2 Baruq 70,2:
Eis que os dias estão chegando e isso vai acontecer quando chegar a hora do mundo ter amadurecido e vier a colheita da semente dos ímpios e dos justos, que YWHW, o Poderoso, fará vir sobre a Terra e seus habitantes, e causar em seus governantes confusão de espírito e espanto do coração. E eles vão odiar uns aos outros e provocar um ao outro para lutar.
72,2: Depois que vierem os sinais vieram dos quais eu tenho falado com você antes - quando as nações forem movidas e o tempo de meu Ungido chegar, Ele vai chamar todas as nações, e algumas delas Ele não poupará, e outras ele vai exterminar.O Hino do capítulo 10 do Testamento de Moisés:
E a terra há tremer: em seus limites ela será abalada
E as altas montanhas virão abaixo
E os outeiros serão abalados e cairão.
E as extremidades do sol serão despedaçadas e ele se converterá em trevas;
E a lua não dará a sua luz, e será transformada completamente em sangue.
E o círculo das estrelas será remexido.
E o mar se retirará para o abismo,
E as fontes das águas falharão,
E os rios se secarão.
Para a aparição do Altíssimo, o único Deus Eterno, (...)
E também que formaram tradições refletidas na biblioteca de Qumrã, como o
famoso 4 Q521, que engloba as passagens sobre os sinais da era messiânica
tomados de cominações isaiânicas 35.5, 61.1 (presos libertos, cegos curados,
encurvados soerguidos, mortos redivivos, boa nova aos ‘pobres’).
Algo como a dimensão cósmica, com sinais antecipatórios; o
misto de urgência com indeterminação. Talvez por uma questão de não identificar
a realização das expectativas no que apontavam diversos os diversos grupos que
cultivavam dadas orientações; aí a gente viaja na recepção e continuação do
movimento de Jesus nos primeiros tempos da igreja primitiva e a incorporação de
pessoas oriundas de outros movimentos messiânicos com abordagens em comum dos
fariseus dos Salmos de Salomão, e mesmo de fariseus.
Os documentos das passagens citadas foram engendrados no período dos dois séculos circundantes a Jesus.
Imagino que circularam entre grupos judaicos piedosos de estudiosos e místicos que fizeram uma
leitura da história e de sua conjuntura mais fatalista, embora não
desesperançada, à medida que influenciada pelas narrativas da libertação do
Egito e diversos fragmentos proféticos, conceberam – e penso que não é
necessário que o grau entre o que seria mais e menos metafórico ou simbólico
seja o mesmo para todos – a intervenção de YWHW na história se faria acompanhar
de sinais na criação e implicaria, para um mundo social renovado, renovações no
mundo natural (à medida que foram amalgamando os males sociais e políticos com
concepções cósmicas e o que a gente diria hoje, “ônticas” sobre a natureza
destes males).
É um campo muito viçoso buscarmos conceber como teria sido o contato
e interação de Jesus com estes corpos apocalípticos complexos, considerando que
não seriam propriamente “escolas” ou “ramos” do judaísmo, tanto delineados como
o é convencionalmente, mas ainda mais fluidos. Inclusive, eu imagino que deve
estar na explicação para sua possível alfabetização.
0 comentários:
Postar um comentário